© Marcel Gautherot - Sem título, 1946 - Coleção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
“Desde o início, as carrancas eram conhecidas pelos traços grotescos, que se tornaram uma característica recorrente do gênero. No entanto, muitas das mais antigas são bastante realistas."
Entre 1880 e 1950, o Rio São Francisco foi percorrido por grandes barcas à vela. Carregadas com todo tipo de mercadoria, viajavam de Pirapora (MG) até Juazeiro (BA). Possuíam, em suas proas, carrancas talhadas em madeira que espantavam os seres sobrenaturais das águas e botavam os perigos e maus presságios pra correr.
"As carrancas espantavam as feras do rio, mas o São Francisco não tem mais aquelas feras que tinha antigamente, o barulho dos motores as afugentou". - Jonatas Ferreira, escultor de carrancas.
Muitas dessas carrancas foram esculpidas por Francisco Biquida dy Lafuente Guarany (1882| 1987), Mestre Guarany, o maior carranqueiro do Rio São Francisco. Nos anos 50, as barcas começaram a ser substituídas por embarcações motorizadas, e as incríveis carrancas começaram a despertar o desejo de colecionadores.
"Francisco Biquiba La Fuente Guarany
conjurou os seres malévolos das águas.
Com o poder de suas mãos meio espanholas,
meio índias, meio africanas,
totalmente brasileiras.
Das mãos de Guarany surdiram monstros
que colocados na proa dos barcos
protegiam os viajantes contra os terrores do rio.
Eram monstros benignos, conjunção de forças milenares
enlaçadas na mente de Guarany.
As águas purificaram-se, as viagens
tornaram-se festivas e violeiras.
E ninguém temia a morte, e o louvor da vida
era uma canção implícita no cedro das carrancas.
Os tempos são outros. Onde as carrancas?
Onde os barcos, as travessias melodiosas de antigamente?
O Rio São Francisco está sem mistério e poesia?
A poesia e o mistério pousaram
no rosto centenário de Francisco, irmão moreno
do santo de Assis, também ele miraculoso,
pelo poder das mãos calejadas e criadeiras."
- Carlos Drummond de Andrade
Alguns historiadores acreditam que a inspiração possa ter vindo das embarcações dos invasores europeus, mas não existem provas ou documentações que mostrem de onde surgiu a ideia.
Em 1946, os fotógrafos Marcel Gautherot (1910-1996) e Pierre Verger (1902-1996), este também etnólogo, percorreram o Rio São Francisco documentando a vida das populações ribeirinhas. Parte significativa dos cliques de Gautherot teve como alvo carrancas que adornavam os barcos com os quais a dupla cruzava no trajeto. As fotos, publicadas nas revistas O Cruzeiro (1947), Sombra (1951) e Módulo (1955) e no livro Brésil (1950).
© Marcel Gautherot - Sem título, 1946 - Coleção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
© Marcel Gautherot - Sem título, 1946 - Coleção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
© Marcel Gautherot - Sem título, 1946 - Coleção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
© Marcel Gautherot - Sem título, 1946 - Coleção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
© Marcel Gautherot - Sem título, 1946 - Coleção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
© Marcel Gautherot - Sem título, 1946 - Coleção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
© Marcel Gautherot - Sem título, 1946 - Coleção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
© Marcel Gautherot - Sem título, 1946 - Coleção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
Marcel Gautherot documentando carrancas de proa em barcos do rio São Francisco, 1946 - foto © Pierre VergerColeção Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles |
Textos: (fonte: As Carrancas do Velho Xico, por Matilda Azevedo - BUUR/e Pinacoteca do Estado de São Paulo)
Fotos: Coleção Marcel Gautherot|Instituto Moreira Salles (IMS)
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BREVE BIOGRAFIA
Marcel Gautherot |
:: Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural
Acervo Marcel Gautherot
Adquirida pelo Instituto Moreira Salles em 1999, a obra completa do francês Marcel Gautherot compõe-se de cerca de 25 mil imagens que abrangem um vasto leque temático e situam seu autor entre os nomes fundamentais da fotografia brasileira no século XX.
Livro
:: A viagem das carrancas. organizado por Lorenzo Mammí. [imagens das carrancas e com a série fotográfica de Marcel Gautherot, além de registros de Hans Gunter Flieg, Pierre Verger e do pesquisador Paulo Pardal; ensaios de Lorenzo Mammì e Samuel Titan Jr.]. São Paulo: Instituto do Imaginário do Povo Brasileiro; Editora Martins Fontes; e Instituto Moreira Salles, 2015.
MAIS MARCEL GAUTHEROT AQUI
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Possuo duas carrancas talhadas em Pirapora e um quadro, da ponte (quase 1km) sobre o rio São Francisco. O quadro foi pintado pelo alemão Hans citado no texto. Como enviar fotos das carrancas e do quadro (assinado). Caso o Instituto Moreira Salles queira fotos para o acervo, favor retornar.
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