©Leonid Afremov |
Da boca para fora, de fora para a boca
Quem quebra a promessa de viver junto para sempre quebrará a promessa de ficar separado.
É uma questão de coerência.
Aquela pessoa que diz que nunca mais vai lhe procurar, que vai sumir, que vai desaparecer, é a mesma pessoa que disse que jamais lhe abandonaria, que estaria para sempre ao seu lado.
Como ela não cumpriu a primeira promessa, é certo que não cumprirá a segunda.
Ela perdeu a longevidade da palavra. Suas palavras ora são ameaças ora são convites e tem a mesma tendência de persuasão.
As frases morrem: o que resta é o sentimento que elas escondem.
Não dá para acreditar na maldição da separação se o voto de amor eterno não foi respeitado.
Ela não conseguirá ficar longe, assim como fracassou para se manter perto.
Nem precisa sofrer por antecedência. Ela voltará.
Como a eternidade do relacionamento não vingou, a eternidade da separação seguirá idêntico caminho: logo estará diante dela de novo.
Não tem como confiar em alguém que afirma que abandonará o passado se antes ela já assegurou todo o futuro.
As casualidades são maiores do que a nossa consciência. O amor é maior do que as nossas ordens, o amor é um desmando.
O curioso é que, rompendo a jura de nunca mais se ver, ela termina regenerando o juramento de sempre ficar junto.
A vida é estranha. Não tem como consertar, que é somente piorá-la.
— Fabrício Carpinejar, crônica publicada originalmente no Blog do autor, em 17 de outubro de 2014.
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