Alvina Tzovenos - poemas

Parc Monceau - Claude Monet (1876)

Entre o Céu e o Mar
há um infinito de esperas,
conflito de incertezas,
interrogação de cores,
tristeza no olhar,
prenúncio de paisagens.
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.

§

Amo-te mais...

Assim...
como são os pássaros
unidos
produzindo orquestração.
Assim
como são as flores:
beijando-se num buquê.
Assim
como são as estrelas,
mirando-se...
em sua constelação

Assim

são as horas e os dias
contigo.
Agasalham-se mais
no calor
da presença
sorrindo ao amor.
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.

§

As duas flores

Duas flores enfeitam
o jardim de minha existência.
Ambas me encantam 
diferindo em destinos a vivência. 

São duas as Margaridas. 

Compará-las? Ó, quão diferente! 
A primeira altiva e com vida, 
a segunda curvada e doente. 

– Desabrocha pétalas 

de vida e beleza esfuziante. 
– Fenece pétalas 
sorrindo à morte a cada instante. 

Fruto de minha carne, 

a primeira é tão esperançada! 
Sou fruto da outra carne, 
vida já cansada!
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.

§


A vida tem cores

A vida tem cores
nas cores da vida,
em aquarela tingida
...desenha luz e som!

A vida tem cores

no beijo dos pássaros,
num adeus sem perfumes
... no pólen das flores!

A vida tem cores

numa palavra amarga,
num céu muito amplo
... presença que tarda!

A vida tem cores

num abraço amoroso,
num sorriso que chega
... num crepúsculo choroso!

A vida tem cores

nos sonhos vividos,
nos mares inquietos
... encontros perdidos!

A vida tem muitas e muitas cores,

as que ninguém pode ver,
quando minh'alma chora e ri
pela felicidade
que eu posso conter!

A vida tem cores

mesmo num coração morto!
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.

§


Chove

Chuva.

Memórias.

Vivências.

Lágrimas que nos confundem.

Emoção contida,
refletida em mágoa,
como prantos que se expandem
em querer!

No abandono de si mesma

a gente ouve
som de música
e embalo de um cantar,
bendizendo a vida
para amar!
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.

§


Contemplação

Eis que passa o vento e depois vem a chuva
desenhando arabescos de vales e montanhas
sobre terra molhada de lágrima e suor. 

Ela é deusa de chinelos velhos

a pisar conchas doiradas de ilusões
reflexos de sonhos. 

E num riso doido ela não cerra suas pálpebras

torna a pingar lentamente como música
cigarra falando baixinho ou
conchas sussurrando mar. 

E no seu andar de garça preguiçosa

continua a tilintar em meus ouvidos
num zum-zum de insetos
tão discretos. 

E a cair e a cair

desprende seus braços úmidos
como sal de praia
a tocar meus olhos também úmidos.
- Alvina Tzovenos, em "Palavras ao tempo".

§


Desencanto

E na tarde que foge
Ao correr vou buscá-la.
Contar-lhe todos meus sonhos
pedir sorrisos ao beijá-la.

Mas... silenciosa ela zomba

nem me estende suas mãos,
... já é fruto de sombra!

Quero luz! não sua morte.

Mas tão lenta e tão triste
... já pressente sua sorte.

Lá vai ela... pobre tarde

carregada em soluços.
Traz nas cores tantos mundos
... de um só mundo que parte!
- Alvina Tzovenos, em "Buscas de infinitos".

§


Divagando

Pensar na velhice
que o inverno dos dias
nos traz,
é viver um amanhã
na incerteza da paz.

É esquecer o presente

no agora...

Amando o que tenho

bem junto às mãos,
sentir e viver
a beleza da hora!

Levarei recordações,

pesadas bagagens
de vivências

e pensarei,

ao escurecer das horas
quando as tardes já mortas
me quiserem ouvir:
- que eu amei com ardor
nas alegrias e desenganos
sorrindo sempre ao amor:
...flor fenecendo
andorinha emigrando
estrela amanhecendo!
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.


§

Madrugada
E de dentro dela
abraçada
ao silêncio das horas
eu devaneio
de alma exaltada!

Ouço vozes
entre luzes coloridas
...há paisagens vigilantes
nessas madrugadas esquecidas!

Sinto que sou flor
sob as carícias do orvalho:
ele surpreendeu-me viçosa
...são seus
todos os meus beijos de amor!

Vejo
melancolia saudosa
a cantarolar seus prantos...
A aurora aconteceu...
é toda voluptuosa!

Dá-me a mão,
ó madrugada!

Agasalha-me nos teus encantos!
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.

§

Meu preito de gratidão a Pablo Neruda


I

Conheço-te entre ideais
assim, dentro do labirinto de teus poemas
são como sinos de capelas, evocando
uma tempestade de justiça e um derrame de amor.
Tua poesia é como vinho ardente e embriagador
me torna serena e com pruridos de imortalidade.
Beijo teus versos
rasgando oceanos em fúria e apedrejando impotências
abro as celas de todos os cárceres
abrindo janelas de par em par aos gritos de justiça
pelas flores que nascem mortas.
Sinto que és irmão do homem sem pão
que tua bandeira é universal
porque te debateste por ela
te feriste na batalha da igualdade sem engolir o sangue das derrotas.

II

Aqui te reencontro quando
com tua candeia me despertas para a dor das guerras suicidas.
Quando de tua voz abraças-me para um nascer entre amigos
visto-me do orvalho cheiroso de tuas palavras.
Almejaste um rebanho sem ovelhas negras
e como médico de teu povo
teus versos curaram tantas feridas…
Falaste ainda da miséria esquecida, como
flor que se pusesse a machucar nos caminhos…
E, triste, coordenaste horizontes, esmagados por botas de ferro.
Mas soubeste ainda sorrir, porque como poeta
conheceste as paralelas desiguais da vida.
Deslumbro teu vulto, sóbrio dentro das esquinas de teus versos
onde os homens espelham vidas, onde se divide o pão.

III

Os que não te amaram são os errados de seus poderios.
Então tua poesia foi guerra
e como ave liberta empreendeste voos.
Como numa taça de champanha
estou a sorver teus versos sedutores
brindando pela eloquência de teu destino.
Mas como tu nasceste
para espalhar vida e amor
apalpo as veias de teus versos sedutores
e bebo deles um sangue de céu anilado
um burburinho de abismos
que se abre como crateras de luz branca.

IV

… versos descortinando consciências
sem grilhões aos esperançados de horizontes.
Tuas flores têm a cor da liberdade e da paz
e em tua sepultura jamais elas fenecem
porque teus versos são glórias do amor entre fuzis
do amor sem fronteiras ou espinhos
de palavras arco-íris que não perdem a cor
de ventos que repetem ecos
e de sóis que se aquecem
resguardando-te até a eternidade.
- Alvina Tzovenos, em "Almanaque Gaúcho".|Zero Hora, 27 de junho de 2012.

§


Monólogo

Há restos de tempos. . .
folhas soltas aos ventos
aos luares despertos.

Há restos de tempos. . .

noites lúgubres.
... momentos aos cantares da vida.

Há restos de tempos... 

perdidos nos templos
das memórias aos sonhos.

Há restos de tempos.

em mim,
desfolhados, molhados.
... céus de chuvas sobre folhas
amarelas, esquecidas deformadas. 
- Alvina Tzovenos, em "Buscas de infinitos". 

§


Num grito de revolta

Há uma erupção de mistérios
dentro da natureza.
Se faz áspera ou sutil
agrega-se ou se torna estéril
ou sem veias
ou vestindo reinados.

Oh, contradições!

dói na carne, nos ossos 
a realidade do imaturo
do fruto precoce
da noite que despertou
aos gritos, raivosa
com a manhã tão graciosa.

Odeio o verbo

na condição do ser imperfeito
da majestade do que é o nada
e do lodo
a não vestir-se de estrelas.

Onde está o perfume da violeta?

Onde dormem os deuses apodrecidos?
- Alvina Tzovenos, em "Palavras ao tempo". Porto Alegre: Editora Pirâmides, 1981.

§


Remendando cristais

Em quais vezes já morri?
Por quantas vezes já morri?

Que importa?

A quem importa?

O vento varre tudo.

A chuva vai e vem
vem e vai.
O sol também morre.
Coitado do sol.
Mas
enquanto houver
ainda horizontes meus
bordados pelas esperanças minhas.
Oh! essas ilusórias auroras.

E enquanto houver ainda

rosas e paisagens
em retinas minhas
minhas telas
fugazes ou mentirosas
então talvez
eu ainda, ainda ressuscite
podendo lutar
e comigo brigar
na ânsia louca de buscar
vozes, olhares e gestos
e como num carnaval brincar
dentro e abraçada ao calor
dos verbos: Voltar – Acreditar.
- Alvina Tzovenos, em "Palavras ao tempo". Porto Alegre: Editora Pirâmides, 1981.

§


Ser pássaro

Quisera ser pássaro
Liberta de preocupações
E cruzando mares e terras
Abençoar as amplidões !

Levaria mensagens

A longínquos destinos:
... restos de saudades!

Em outras paragens

De redobrados caminhos
Eu cantaria meus hinos:
... horizontes de carinhos !

Na leveza da graça,

Rapidez do passo,
Plumagem da raça,
Que seria doçura
Desconhecendo a amargura ...

E traria o amanhecer

Entre as mãos
Como promessa de vida,
Ater cegar-me o entardecer!

Aos céus em oração,

Eu ensinaria aos homens:
“O VOO DA PERFEIÇÃO”!
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.

§


Transições

Mastigando raízes de eternidade
adentro-me pelas colinas dos céus
onde Deus é meu relógio.

E buscando sabedoria

não me torno deserto e nem ausência.

Recolho em minha solidão

muralhas de calmaria
sem gemido de dor ou morte.

Em meus redemoinhos  

viajo entre cansaços de séculos 
adornada de crisântemos amarelos.

Em minha ausente juventude

não há abismos em voragem.
Trigo, fonte e pombas 
ornamentam minhas varandas.

A noite ajoelhada soluça

em seu tapete e entre velas.
O tempo que é túnel 
fala das estações  
derramando chuva de invernos 
até às eternidades.
- Alvina Tzovenos, em "Palavras ao tempo". Porto Alegre: Editora Pirâmides, 1981.

§

Tuas flores
Ontem chegaste
e eu chorava. 
Era bem um contraste! 
Trazias na mão 
flores tão lindas 
plenas de expressão: 
lilazes, 
miúdas e matizadas! 

Tuas flores 
arco-íris 
após tempestades 
trouxeram-me risos! 
Desde que nos amamos, 
há tantos anos, 
em muitas ocasiões 
tuas flores 
transbordam 
minhas ilusões! 

Tuas flores: 
gestos de amores, 
renascendo, 
revivendo, 
trocando meus prantos 
em círios de louvores!
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.

§


Violinos em festa

Há uma quietude no ar,
há rouxinóis perdidos
e a carícia que é sentida...

Que doce melancolia!


Há emoções,

violinos em magia,

É poesia

plena de paixão!
- Alvina Tzovenos, em "Sonhos e vivências". Porto Alegre: Editora Bels, 1971.

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Breve biografia da autora:
Alvina Nunes Tzovenos, poeta gaúcha (...)
Obra publicada
:: Sonhos e vivências. Porto Alegre: Editora Bels, 1971.
:: Palavras ao tempo. Porto Alegre: Editora Pirâmides, 1981.
:: Buscas de infinitos

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