© Joanna Concejo |
Esperou o pai na porta da escola. Como toda sexta-feira. Desde o divórcio, Fernando morava com a mãe, mas os fins de semana eram do pai. Tinham resolvido a questão de maneira amigável, antecipando-se a qualquer imposição, sobretudo para o filho não sofrer com confrontos inúteis. Ele nunca chegava na hora, mas dessa vez demorou mais que de costume. Enquanto dividiu a espera com os outros garotos, Fernando não se preocupou, mas foram apanhando um por um, até que restaram só ele e o porteiro, um sujeito que, além do mais, detestava os alunos.
Finalmente Marcelo apareceu, meio esbaforido. Fernando se resignou a beijar o rosto paterno e suado. Não gostava disso, porque ficava com a boca úmida e tinha aprendido que era feio se limpar com a manga.
— Você estava nervoso?
— Não.
— Por favor, não conta para sua mãe que eu demorei. Só para ela não se preocupar. É que eu não conseguia me livrar de um cliente chato.
Não conta para sua mãe. Fernando não entendia por que ele não dizia: Não conta para a Luisa.
Pegaram um táxi até o restaurante de todas as sextas-feiras. Fernando nem precisava ler o cardápio. Permanecia sempre fiel ao bife com salada.
— Você não quer pedir outro prato?
— Não.
— Eu enjoaria de pedir sempre a mesma coisa.
— Mas eu gosto. Por isso não enjôo.
Marcelo cumpriu a obrigação paterna de perguntar sobre as aulas, as professoras, os colegas. Como eram as perguntas de sempre, Fernando apelou às respostas de sempre.
— De tudo que está aprendendo, do que você gosta mais?
— Das contas e dos contos.
Como acompanhamento para um humor tão primário, Fernando esboçou o primeiro sorriso daquela sexta-feira, e o pai não teve outro remédio senão rir.
A sobremesa também não teve novidades: sorvete de creme.
— E sua mãe, como está?
— Sozinha. Ela está sozinha.
— Bom, sozinha ela não está. Está com você, não é?
— É, claro.
Chegaram ao belo apartamento da Rambla, e Fernando foi para seu quarto. Marcelo lhe reservara esse espaço, onde, além da cama e outros móveis, havia brinquedos (um jogo de armar, um trenzinho elétrico) de uso e desfrute solitários. E uma pequena televisão. Na casa da mãe, ele também tinha um lugar só dele, com outros brinquedos, claro. Fernando gostava dessa faixa dupla no seu divertimento. Era como pular de uma região a outra, e vice-versa.
Brincou por algum tempo com o jogo de armar (montou uma coisa que, com boa vontade, lembrava um moinho), assistiu a um documentário sobre esquilos, cochilou um pouco, até que Marcelo o chamou do terraço.
Lá o aguardava uma novidade: uma moça, alta, loira, com o cabelo solto e de jeans, que Fernando achou bonita e simpática.
— Fernando — disse o pai —, esta é a Inés, uma boa amiga minha que também vai ser uma boa amiga sua.
A boa amiga disse apenas “oi!”, mas o puxou pelo braço para junto de sua cadeira de balanço. Deu-lhe um beijo suave, e Fernando notou com alívio que aquele rosto não estava suado. Gostou de que Inés não lhe perguntasse nada sobre a escola, as aulas, as professoras e os outros alunos. Em compensação, falou de filmes e de futebol. Ele achou incrível uma mulher entender tanto de futebol. Além disso, como quem não quer nada, disse que torcia para o Nacional. Ele também era bolsiyudo. Um bom começo. Marcelo, em compensação, era Peñarol, mas assistia àquela estréia satisfeito, como o autor clandestino de um bom libreto.
Inés trouxera uns pacotes de comida, portanto jantaram em casa. Depois viram um pouco de televisão (notícias sobre fome, enchentes e atentados), mas, como Fernando não conseguia ficar de olhos abertos, o pai o mandou para a cama, não sem antes recomendar que escovasse os dentes.
À meia-noite foi acordado por um barulho vindo do banheiro. Alguém tinha dado a descarga. Como a porta do quarto estava entreaberta, Fernando espiou pela fresta. Inés, de camisola, saiu do banheiro e entrou no quarto de Marcelo.
Fernando voltou para a cama e não pregou o olho por um bom tempo. Inés era bonita e simpática, e além disso torcia para o Nacional. Mas antes de pegar no sono Fernando decidiu reafirmar sua lealdade a Luisa. A mãe dele não ligava para futebol, mas mesmo assim era mais bonita e mais simpática.
No sábado e no domingo, Fernando se divertiu com o pai e este com Fernando. Não era hora de fazer um balanço da situação. Como se o roteiro do filme tivesse acabado, Inés não falou mais de futebol. Estava tão calada, que no domingo à tarde Marcelo se aproximou dela, acariciou seu lindo cabelo e lhe perguntou se ela tinha alguma coisa.
— Nada de mais — disse ela. — Só preciso me acostumar.
Falou num sussurro, só para Marcelo, mas Fernando ouviu (sua avó sempre dizia: “esse menino tem ouvido de tísico”) e chegou à conclusão de que ele também precisava se acostumar. Mas se acostumaria?
No domingo à noite, Marcelo devolveu o menino ao domínio materno. Chamou pelo porteiro eletrônico e, quando ouviu algo parecido à voz de sua ex-mulher, disse: “Luisa, eu trouxe o Fernando. Tchau.” “Obrigada. Tchau”, respondeu o interfone, mais afônico que de costume.
Fernando subiu de elevador até o sexto andar. Lá, Luisa o esperava. Deu-lhe um beijo, tinha um pouco de maquiagem no rosto, mas ele não se importou.
Pouco depois ela fez um suco de laranja para Fernando. De repente, olhou para ele intrigada. Pensou que era absurdo, mas lhe pareceu que de certo modo o filho tinha crescido naquelas 48 horas.
Só para dizer alguma coisa, Luisa lhe perguntou:
— E seu pai como está?
Fernando pensou: ela também não disse “Marcelo”, mas “seu pai”. Engoliu em seco e respondeu:
— Sozinho. Ele está sozinho.
- Mario Benedetti, no livro "Correio do tempo".. [tradução Rubia Prates Goldoni]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
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