Cleonice Berardinelli - foto: Fabio Seixo/O Globo |
2016 - centenário de cleonice berardinelli
À Cleonice
Pouco te importe o meu nome.
Não vale nada.
E nada que é, se consome
E apaga. Aqui
Vale apenas, enlevada,
A alma que deixo ajoelhada
E a Deus, lembrando o teu nome,
Reza por ti
Alberto de Oliveira
S. Paulo, 16 de Março de 1926
ENTREVISTA CLEONICE BERARDINELLINão vale nada.
E nada que é, se consome
E apaga. Aqui
Vale apenas, enlevada,
A alma que deixo ajoelhada
E a Deus, lembrando o teu nome,
Reza por ti
Alberto de Oliveira
S. Paulo, 16 de Março de 1926
Ensinar é preciso
[entrevista concedida a Alberto da Costa e Silva, Luciano Figueiredo e Marcello Scarrone - Revista de História/Biblioteca Nacional - 2010]
Vira e mexe alguém lhe pergunta: “Por que a senhora continua lecionando?”. A resposta, Cleonice Seroa da Mota Berardinelli, professora emérita da UFRJ e da PUC-Rio, guarda na ponta da língua: “A aula é o começo de tudo. É a raiz de tudo que eu fiz”. E não foi pouco. Afinal, estamos nos referindo à maior lusitanista brasileira, especialista em Camões e Fernando Pessoa, que, do alto de seus (94 anos - hoje 100) bem vividos, já formou gerações e mais gerações de professores e intelectuais – somente na Academia Brasileira de Letras, são quatro ex-alunos de Dona Cléo, como seus discípulos a chamam carinhosamente.
Carioca de 1916, Cleonice é filha de um oficial do exército apaixonado por Literatura. Tal pai, tal filha. Entre Rio e São Paulo, ainda menina, teve alguns momentos de fama como declamadora de poesias. “Acho que nasci com uma dose de “mostracite” acentuada”, diz ela, arrancando algumas das muitas risadas que pontuam esta conversa. Em 1938, Cleonice se formou, por acaso, em Letras na USP. Viajou pela primeira vez para Portugal em 1959. Sua dissertação sobre Fernando Pessoa é nada mais nada menos que a segunda do mundo.
Cleonice Berardinelli |
RH – A senhora esperava entrar para a Academia Brasileira de Letras aos 93 anos?
CB - Não. Jamais pensei na Academia. Jamais. O fato é que tenho quatro ex-alunos na Academia. Três da universidade, que são Antonio Carlos Secchin, Domício Proença Filho e Ana Maria Machado. E tenho um ex-aluno dos bancos do Colégio Melo e Souza, o Afonso Arinos. Secchin foi quem telefonou para mim numa tarde e disse: "Cleonice, olhe cá, sabe que a vaga da Zélia Gattai está livre?". Eu não sabia. "Pois é. E há um número considerável de candidatos, mas eu acho que você devia se inscrever". Eu respondi: “Ah, mas não tem a menor possibilidade. Não, nunca pensei nisso. Não, Antonio Carlos. Eu não quero". Ele insistiu, insistiu, insistiu... Falou comigo mais de uma hora sem parar, como uma matraca ligada. Ao fim disso, para me livrar dele, eu disse: "Está bem, Antonio Carlos. Vou me candidatar”. Mandei o pedido para o Cícero Sandroni, que, na época, era o presidente. Mas, no dia seguinte, me arrependi profundamente.
RH – Por quê?
CB - Sabe essa coisa... Você toma conhecimento de que algo qualquer na sua vida está errado ou diferente? Fiquei pensando: “Entrar para a Academia? Mas eu estou doida... Vou entrar para Academia nenhuma”. Saí correndo da cama, fui para a mesa, peguei uma caneta e escrevi outro cartão: "Prezado Presidente etc. Escrevo-lhe para dizer que estou me descandidatando à Academia. Desculpe, mas, como sabe, e os franceses dizem muito expressivamente, souvent les femmes varient [As mulheres frequentemente variam]. E eu, de ontem para hoje, variei e estou desistindo da Academia”. O Cícero Sandroni achou impagável, naturalmente, o meu cartão. O que me disseram é que ele tirou uma cópia e distribuiu na sessão seguinte. E disse que não aceitava a minha rescisão de contrato e tal. E eu acabei entrando, não na vaga da Zélia Gattai, mas na de Antonio Olinto. Quando abriu a vaga, lá veio o Antonio Carlos Secchin. E dessa vez me empurrou mesmo. E eu fui.
RH – E o poeta Alberto de Oliveira, fundador da cadeira que a senhora ocupa, chegou a conhecer?
CB – Contei esta história no dia de minha posse na ABL. Eu conheci o Alberto de Oliveira em março de 1926. Eu tinha 10 anos recém-completados. Nós estávamos em São Lourenço, num hotel com cara de pensão antiga, quando vi chegar uma bagagem alinhadíssima. E atrás da bagagem estava um senhor muito distinto, com grandes bigodes negros e cabeleira branca. Então, eu olhei para aquela bela figura e disse: "Gente, mas é a cara do Alberto de Oliveira." A essa altura, eu declamava versos dele.
RH – E o convidou para conversar, não é?
CB – Sim. Depois do jantar, as moças começaram: "Cleo, você tem coragem de ir lá convidá-lo?”. Eu tinha, e fui, toda pimpolha: "Boa noite, doutor Alberto de Oliveira". "Minha menina, quem lhe disse que eu sou Alberto de Oliveira", ele respondeu. "Ninguém me disse, mas eu li nas suas malas. Não adianta disfarçar porque nós sabemos que é. E eu vim para convidá-lo a não ficar sozinho aqui e ir conversar conosco". "Minha filha, quem quer a conversa de um velho? Não tem graça nenhuma". "Nós achamos que tem muita graça e queremos que o senhor vá. E o senhor não é velho". Aí ele ficou todo satisfeito, com seus bigodões, e veio comigo, sentou-se e ficamos de papo ali. Depois de ter declamado quase todas as poesias que eu sabia, o convenci a dizer alguma. Com uma vozerona, ele declamou um poema de Olavo Bilac: "Se por vinte anos, nesta furna escura,/ deixei dormir a minha maldição,/ hoje, velho e cansado de amargura,/ minha alma se abrirá como um vulcão. E, em torrentes de cólera e loucura,/ sobre a tua cabeça ferverão/ vinte anos de silêncio e de tortura,/ vinte anos de agonia e solidão. /Maldita sejas pelo ideal perdido!”.
RH – Como a senhora adquiriu o gosto pela Literatura?
CB – Meus pais, embora muito cuidadosos, não tinham nenhuma especialização nas áreas pelas quais eu passeei. Meu pai era oficial do Exército. Minha mãe era dona de casa, tinha se casado aos 17 anos. Éramos três crianças em casa. Eu era a mais velha. E fui a que fiquei. Os outros já se foram. Mas meu pai e minha mãe eram apaixonados por poesia. Isto eles nos transmitiram. Eu e meus irmãos tínhamos a mania de sermos sempre os primeiros alunos da classe. Essa foi a formação que eu tive, em que se havia alguma insistência maior era na Literatura, porque nós líamos sempre, e na poesia, porque papai, sobretudo, me dava poemas para decorar. E as visitas para quem eu declamava as poesias diziam que eu levava jeito, que podia fazer parte de uma festinha de caridade... Eu era completamente desinibida. Acho que eu nasci com uma dose de "mostracite" acentuada.
RH – A senhora chegou a estudar a declamação de poesias?
CB– Sim. Um belo dia, meus pais resolveram procurar uma professora para mim. E eles encontraram uma de declamação cujo nome eu gosto de repetir: Noemia do Nascimento Gama. Uma senhora de uma distinção, de uma inteligência, de uma percepção da poesia... Sob a tutela dela, eu entrei, digamos, em uma vida de declamadorazinha mirim. Em todas as audições da minha professora, eu declamava e era muito aplaudida. E os jornais começaram a dar notícias. Claro, comecei a ficar meio vaidosa. Depois, ainda descobriram que minha irmã Hilda também dizia versos muito bem. Então faziam os confrontos: "A Cleo já tem uma irmãzinha que vai pela mesma senda”.
RH – Então, a senhora entrou na Literatura pelo caminho da menina prodígio.
CB - Da menina prodígio e dos pais encantados (risos). Porque os pais valorizavam muito isso. Ficavam muito vaidosos, muito contentes. Era só chegar visitas em casa que eles me chamavam para declamar. Eu cheguei a saber uns 200 poemas de cor. E tenho o caderno onde meu pai, com uma letra linda, copiava para mim. Isto porque eu tinha uma letra medonha. Era um terror. Aliás, esta é uma história curiosa. Naquele tempo, a nota mais alta no Colégio era 12. Eu tirava 12, 11,9, 11,8 e 5. Cinco em caligrafia. Era uma desgraça. Até o dia em que mudei de colégio. Lá, vi uma menina escrevendo com o papel inclinado para o lado. Eu disse a ela: "Pode?", e ela disse: "Pode o quê?", "Escrever com o papel torto?", "Não está torto. É como eu sei escrever". Eu, então, virei o papel e comecei a escrever. E a minha letra – eu tinha 12 anos – assumiu quase que instantaneamente a cara que tem até hoje.
RH – De onde veio a decisão de cursar Letras?
CB – Foi meio por acaso. Na verdade, eu era completamente apaixonada por Matemática. Mas não existia faculdade de Matemática naquela época. O mais perto disso era a Engenharia. Então, preparei-me para o vestibular de Engenharia. O professor de Língua e Literatura, Antonio Sales Campos, não se conformava com a minha decisão e tentava me convencer. Quando fui aprovada no ginásio, foi ele quem datilografou o meu diploma. "Agora, a senhora vá se matricular na faculdade de Filosofia", ele disse. E eu respondi: "Enganou-se, professor. Eu não tenho uma mente filosófica”. "Ah, mas a faculdade não é só de Filosofia. A faculdade chama-se Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. E é para Letras que a senhora vai". Eu achei graça e saí, vim para casa almoçar. A família já estava sentada. Eu contei para a minha mãe a história toda, e ela me disse: "Está aí, minha filha. Isto é que é profissão para uma menina”. Ela mandou o meu pai me matricular logo depois do almoço. Papai não disse uma, nem duas palavras, e eu não reclamei, sentei, almocei, me arrumei, e o acompanhei até a Faculdade de Letras.
RH – Gostava da faculdade?
CB – Era ótimo. Eu tive professores incríveis, como o Fidelino de Figueiredo. Uma maravilha de sabedoria, de delicadeza, de prudência, de tudo quanto se possa imaginar de bom. A USP já era uma grande universidade. Eu era aluna de Giuseppe Ungaretti e conversava com Lévi-Strauss e Fernand Braudel pelos corredores. Era uma maravilha. Realmente conheci gente da melhor qualidade. E o Fidelino era uma espécie de segundo pai. Ele foi meu professor de Literatura Brasileira e Portuguesa. Naquele tempo, o mesmo professor lecionava um semestre de portuguesa e um de brasileira. Claro que o curso que ele deu de brasileira não atingiu as alturas da portuguesa, mas ele privilegiou Machado de Assis. E disse coisas inteligentíssimas sobre Machado.
RH - Quando foi sua primeira viagem a Portugal?
CB - Em 1959. Foi também a primeira vez que fui à Europa. Fiquei 25 dias em Portugal. Eu tinha uma bolsa portuguesa do Instituto de Alta Cultura, que depois veio a se chamar Instituto Camões. As portas começaram a se abrir a partir desta primeira viagem. E minha tese sobre Fernando Pessoa veio um pouco depois.
RH – Tratava-se de uma das primeiras teses a respeito de Fernando Pessoa, não é?
CB - No Brasil, era a primeira. Mas era a segunda no mundo, depois somente de “Diversidade e unidade em Fernando Pessoa”, de Jacinto do Prado Coelho. Eu tinha lido muito bem esta obra, fiquei impressionada, e fiz a minha. Tentei fugir o máximo possível do que dizia Prado Coelho. Mas é claro que nós coincidíamos em uma porção de julgamentos sobre o Pessoa.
RH – O que a senhora ainda guarda deste seu primeiro trabalho?
CB – O que considerei e considero até hoje como sendo o cerne da poesia de Fernando Pessoa é o que eu chamo "a febre do além". Eu chamei assim porque há um soneto de Fernando Pessoa, um poema, quase soneto, que se chama Febre de além. É um dos primeiros versos do poeta, algo em torno de 1914. Ele fez do poema a fala de Dom Fernando, o Infante Santo, que morreu no exílio na África. O poema dizia: "E essa febre de além que me consome, e este querer grandeza, são seu nome dentro em mim a vibrar". Veja bem: acho que Fernando Pessoa escreveu esses versos não para Dom Fernando, mas para exprimir-se "dessa febre de além que me consome". Pois vamos encontrar por toda a obra de Fernando Pessoa esse desejo de Deus, de transcendência, metafísico. Não fica por aqui, não fica cá embaixo. Procura alçar-se. Isso é o que acontece. E devo esse olhar a Thiers Martins Moreira, de quem fui assistente na Universidade do Distrito Federal, no Rio.
RH – Por quê?
CB – Era admirável o conhecimento que Thiers tinha de Fernando Pessoa. No princípio, minha referência era Fidelino de Figueiredo. Essa é a minha história sagrada. Mas Fidelino só foi até Eça de Queiroz, porque não dava tempo para mais. Um semestre para cada Literatura; era por aí que se parava naquele tempo. Não entrávamos plenamente no século XX. Então, um belo dia, o Thiers se virou para mim com um livrinho na mão e disse: "O que você pensa deste?". Eu olhei e estava escrito Fernando Pessoa, antologia de Casais Monteiro. "Eu não penso nada. Não conheço. Não sei quem é", respondi. Ele olhou para mim e disparou: "Uma falha na sua cultura. Leve esse livro, leia e depois venha conversar comigo". Levei, li e conversei com ele enquanto esteve vivo.
RH - E suas relações com o Camões?
CB - Ah, essas são mais antigas. O meu amor por Camões começou na Escola Brasileira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Eu tive uma professora de Português que se chamava Fernanda Bastos Casimiro. Ela era portuguesa, formada por Coimbra. Foi quando li pela primeira vez Os Lusíadas. Isso sem contar que, quando eu ainda era menina, já havia decorado alguns sonetos dele. E conhecia também um soneto lindo de Manuel Bandeira dedicado a Camões: "Quando n’alma pesar de tua gente, o vulto da apagada e vil tristeza". Eu cheguei a declamá-lo na faculdade.
RH – A senhora fez um programa de rádio com o Manuel Bandeira, não é?
CB – Sim. Gostava muito dele. Um dia, ele já era meu amigo, cheguei e disse: "Manuel, eu sei que você é amigo de Murilo Miranda, diretor da Rádio MEC. Você não pode dizer a Murilo que fica muito mal que a Rádio MEC do Brasil tenha um programa sobre Shakespeare, outro sobre Dante e não tenha nenhum sobre Camões?". Ele concordou comigo e me perguntou se eu faria o programa. No dia seguinte, ele liga para mim: "Cleonice, Murilo está nos esperando na Rádio MEC. Vamos lá". Combinados tudinho. O programa teria o nome de “Camões, poeta de todos os tempos”, e o primeiro episódio seria uma conversa entre mim e o Bandeira. Eu engatei e fui fazendo os programas. Fiz Os Lusíadas inteiro. Estamos falando de 1962. Perdeu-se esse disco. Eu não me conformo. Não há um poeta de quem eu tenha sido tão amiga como fui do Manuel Bandeira.
RH – Seus alunos se interessam pela Literatura Portuguesa?
CB - Eu acho que consigo injetar nos meus alunos essa minha paixão. Em grande parte deles, né? Afinal, já são 70 anos de magistério. Bom, eu tenho uma ex-aluna, que, para mim, é o meu reflexo. E eu sempre digo a ela que fico muito orgulhosa de dizer isso. Ela se chama Teresa Cristina Cerdeira, uma especialista em Saramago. Ela fez a primeira tese que se escreveu sobre Saramago. E ele veio ao Brasil assistir. Foi uma coisa linda. Ela é uma pessoa excepcional que tem essa capacidade de se apaixonar. Agora, eu entendo a sua pergunta. E vejo um certo perigo hoje.
RH – Qual?
CB - Os mais jovens professores só querem dar atualidade, os contemporâneos, o século XXI e o XX. Eu vejo isso na PUC, por exemplo, que é onde eu continuo dando aulas. Desde 1970, eu só dou cursos de pós-graduação. São cursos monográficos. Eu escolho a matéria que vou dar e me mantenho sempre do começo até o XIX, porque dificilmente há quem dê. Isso é que eu considero triste.
RH - Por quê?
CB - Porque a Literatura Portuguesa antiga é a base de tudo. Nós chegamos até aqui porque existiu lá atrás um sujeito chamado Camões. Ninguém mais conhece Dom Diniz, que escreveu as cantigas de amor mais lindas. Então, tudo isso é o lastro de conquistas seguidas até se chegar ao século XVI, com os artistas já considerados clássicos. Até chegar o Gil Vicente, foi preciso passar antes pelos esboços de teatro de Henrique da Mota, por exemplo.
RH - Nós estaríamos perdendo o sentido da História da Literatura?
CB - Exatamente. Estamos abandonando estes alicerces. É como se fosse possível construir um edifício no ar. E a Literatura Portuguesa antiga tem coisas especialmente bonitas. Vejam estes versos: “Senhora, partem tão tristes / meus olhos por vós, meu bem, / que nunca tão tristes vistes / outros nenhuns por ninguém. / Tão tristes, tão saudosos / Tão doentes da partida / tão cansados, tão chorosos / Da morte mais desejosos / cem mil vezes que da vida. / Partem tão tristes os tristes, / tão fora de esperar bem / que nunca tão tristes vistes / outros nenhuns por ninguém”. É atualíssimo, não é? Pois estamos falando de século XV, de um sujeito que se chamava João Roiz de Castelo Branco. É uma beleza! É a coisa mais linda do Cancioneiro Geral!
Cleonice Berardinelli e Maria Bethania |
CB – Vai mal. Vou lhe dar um exemplo. Ainda hoje, recebi, por e-mail, uma dessas brincadeiras que agora se fazem e se mandam. Olha, era uma delícia, feito com toda essa terminologia atual com que se preparam programas de cursos. As interdependências, as inter-relações, as parassínteses não sei de quê. Mas é um repositório de pernosticismos, de coisas complicadas. E quando me pedem para preparar um curso, "faça um programa para isso, assim, assim", eu não sei mais fazer. Aquela história, eu não sei. Claro que eu conheço as palavras, mas eu nunca as poria num programa. Nunca. Então, estamos ficando assim, muito pernósticos, muito pedantes, tecnicistas.
RH - O que significa lecionar?
CB - Tudo. A aula é o começo de tudo. O que eu escrevi foi a partir do que eu estudei para ensinar. Os ensaios que eu escrevi nasceram na sala de aula. A minha atividade como professora, como didata, é a raiz de tudo que eu fiz, de tudo que eu escrevi. Uma pessoa que me entrevistava me perguntou: "Como pode a senhora chegar a esta idade com este entusiasmo, esta paixão pelo que faz?". Eu disse: "Porque nunca parei de dar aulas e nunca parei de fazer exatamente aquilo de que eu gosto". Então, trabalhar naquilo que se gosta é realizar-se. É a impressão que eu tenho. Se me obrigassem a pentear cabelos, eu seria uma desgraçada total. No terceiro cabelo, eu já estaria louca. Eu penso nisso porque sempre detestei me pentear.
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Verbetes
Giuseppe Ungaretti (1888-1970)
Poeta italiano, ensinou sua língua materna na Universidade de São Paulo entre 1936 e 1942. É autor, entre outras obras, de Il dolore (1947).
Claude Lévi-Strauss (1908-2009)
Antropólogo francês, um dos intelectuais mais influentes do século XX, considerado fundador da Antropologia Estruturalista. Foi professor na USP entre 1935 e 1939, e de sua experiência brasileira nasceu o livro Tristes Trópicos (1955).
Fernand Braudel (1902-1985)
Historiador francês, autor do grande clássico O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Felipe II (1949). Foi professor na USP entre 1935 e 1937.
Thiers Martins Moreira (1904-1970)
Escritor nascido na cidade de Campos (RJ), foi catedrático de Literatura Portuguesa na Universidade do Rio de Janeiro (mais tarde Universidade do Brasil, atual UFRJ). Autor, entre outros livros, de O Menino e o Palacete (1954).
Henrique (ou Anrique) da Mota (séculos XV – XVI)
Poeta satírico português, frequentou as cortes de D. João II, D. Manuel e D. João III. Foi também negociante e magistrado. Entre suas composições está a Farsa do Alfaiate.
:: Fonte: Revista de História
Fernando Pessoa, Camões e Outros, por Cleonice Berardinelli (Bloco 1 de 3).
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 1
Breve biografia Cleonice Serôa da Motta Berardinelli nasceu no Rio de Janeiro, em 1916. Formada em Letras Neolatinas pela Universidade de São Paulo (USP), Cleonice é atualmente professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Uma das maiores autoridades em literatura portuguesa do Brasil e pioneira no estudo de Fernando Pessoa (sua dissertação sobre o poeta, defendida em 1959, foi a segunda do mundo), Cleonice destaca-se também por suas publicações sobre Luís de Camões e Gil Vicente. É autora, dentre outras obras, de: Estudos camonianos (1973); Obra em prosa: Fernando Pessoa (1974); Estudos de Literatura Portuguesa (1985); Álvaro de Campos – A passagem das horas (1988); Poemas de Álvaro de Campos (1990) e Fernando Pessoa: outra vez te revejo... (2004). Em 2009, Cleonice Berardinelli foi eleita imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Fonte: Casa da Palavra
Cleonice Berardinelli |
:: Cantigas de trovadores medievais em português moderno. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1953.
:: Mário de Sá-Carneiro: poesia. (Antologia, com introdução e notas de Cleonice Berardinelli). Coleção "Nossos Clássicos". Rio de Janeiro: Agir, 1958. Edição em novo formato, com novos critérios, revista, acrescentada e corrigida e com bibliografia atualizada. Rio de Janeiro: Agir, 2005.
:: Auto de Vicente Anes Joeira. (Edição crítica com Introdução e notas de Cleonice Berardinelli). Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1963.
:: João de Deus: poesia. (Antologia, com introdução e notas de Cleonice Berardinelli). Coleção "Nossos Clássicos". Rio de Janeiro: Agir, 1967.
:: Autos de António Ribeiro Chiado. (Edição crítica com Introdução e notas de Cleonice Berardinelli e Ronaldo Menegaz). vol. I., Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1968.
:: Antologia do Teatro de Gil Vicente. (com introdução e notas de Cleonice Berardinelli ). Rio de Janeiro: Grifo, 1ª ed., 1971. 2ª ed., 1974.
:: Estudos Camonianos. Rio de Janeiro, MEC - F.C.R.B., 1973.
:: Gil Vicente: autos. (Antologia, com introdução e notas de Cleonice Berardinelli). Coleção "Nossos Clássicos", Rio de Janeiro: Agir, 1974.
:: Fernando Pessoa. Obras em prosa. (Introdução e notas de Cleonice Berardinelli). Rio de Janeiro: Aguilar, 1975. Nova Aguilar, 10ª ed., 2004.
:: Fernando Pessoa. Alguma Prosa. (Seleção, Introdução e notas de Cleonice Berardinelli). Rio de Janeiro: Aguilar, 1976. Nova Fronteira, 6ª ed., 2001.
:: Sonetos de Camões. (Edição crítica, introdução e notas de Cleonice Berardinelli). Rio de Janeiro: Centre Culturel Portugais, em convênio com a Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980.
:: Fernando Pessoa. Poemas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1ª ed., 1980, 10ª ed., 2002.
:: Antologia do teatro de Gil Vicente. 3ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, em convênio com o Instituto Nacional do Livro, 1984.
:: Estudos de Literatura Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985.
:: Antologia da poesia de José Régio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. 2ª ed., 1986.
Cleonice Berardinelli |
:: Álvaro de Campos. A passagem das horas. Edição crítica. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988.
:: Poemas de Álvaro de Campos. (Edição crítica com Introdução, notas e Aparato Genético de Cleonice Berardinelli). Série Maior. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990.
:: Poemas de Álvaro de Campos. (Edição de Cleonice Berardinelli). Série Menor. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda 1992.
:: Teatro de António Ribeiro Chiado. (Edição de Cleonice Berardinelli e Ronaldo Menegaz). Porto: Lello & Irmão-Editores, 1994.
:: Poemas de Álvaro de Campos. (Fixação do texto, Introdução e Notas de Cleonice Berardinelli). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
:: Estudos Camonianos. (Nova edição revista e ampliada de Cleonice Berardinelli). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
:: Fernando Pessoa: Outra vez te revejo. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2004.
:: Mensagem de Fernando Pessoa. (Organização de Cleonice Berardinelli e Maurício Matos). Edição preparada segundo o exemplar de 1934 corrigido pelo punho do poeta. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.
:: Mário de Sá-Carneiro: antologia. 1ª ed., Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2015. 518p.
:: Fernando Pessoa. Mensagem. 1ª ed., Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014. 176p .
:: Cinco séculos de Sonetos Portugueses - de Camões a Fernando Pessoa. 1ª ed., Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. 367p .
:: Gil Vicente: autos. 1ª ed., Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012.
:: Fernando Pessoa: antologia poética. 1ª ed., Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012.
:: Poemas de Álvaro de Campos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. v. 1. 462p .
Capítulos de livros, ensaios, resenhas, prefácios em revistas e obras coletivas, no Brasil e no Exterior.
:: Fonte: ABL
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