A gueixa no canto da sala - Lya Luft



Emil Nolde - Garden

A gueixa no canto da sala

Quando anos atrás eu já refletia sobre os temas específicos deste livro, decidi organizar grupos de mulheres para debatermos sobre a questão Maturidade: Perdas & Ganhos. Convidei uma amiga terapeuta experiente para participar. Mesmo que não fossem grupos terapêuticos, eu estaria lidando, mais diretamente do que em livros e palestras, com essa singular criatura chamada alma humana. Não queria improvisar frente a eventuais momentos de crise. Pretendíamos reunir no máximo dez mulheres e deixá-las trocar idéias e experiências sobre o tema do amadurecimento. A cada encontro sugeríamos um aspecto do tema ou lhes pedíamos sugestões. Não havia rigidez. Quem quisesse, quem se sentisse à vontade, daria seu depoimento ou exporia suas idéias a respeito de algum assunto. Todas podiam comentar, discutir. Hoje vamos falar de nossos medos.
Nossos arrependimentos, nossas alegrias. Nossos sonhos e projetos. Essa sugestão podia vir assim, direta, numa frase, ou em algum texto que recebiam para ler. A intenção primeira era descobrir: Quem sou ou acho que sou… quem quero ser, quem gosto de ser? Por que dispendemos tanta energia tentando ser quem não somos, não podemos ser - quem sabe nem temos vontade de ser? Depende também de mim? Se depende, o quanto isso significa que gosto de mim? Quero ser feliz, saudável, amoroso, rodeado de bons afetos ou na verdade curto ser ressentido e amargo? Esse é o "meu jeito"? Ou se quero mudar: como mudar, como enfrentar os efeitos da mudança? Como acontece entre mulheres, quase de imediato se formou um clima de diálogo e cumplicidade. Algumas mais tímidas, outras extrovertidas, mais reservadas ou expansivas, rapidamente passaram a dirigir elas mesmas os debates, por vezes em tom confidencial, outras, verdadeiras discussões. Lágrimas, risadas. Espanto: "Nossa! Pensei que só eu fosse assim. Achei que ninguém tinha esse problema." Nada de particularmente íntimo, apenas manifestações que provocaram muita reflexão nossa aos sairmos dos encontros. Certamente aprendemos com essas mulheres, que ali faziam o melhor que se pode fazer por si mesmo: querer entender, querer mudar, querer ser mais feliz.
Suas idades variavam de 40 a 80 anos, a maioria na casa dos 50.
Profissionais liberais ou "donas-de-casa" de mente inquieta indispensável para qualquer debate. Eram da geração de pioneiras que somos todas nós: não temos padrões anteriores para imitar nem mesmo para infringir, uma vez que o universo de nossas mães está em alguns aspectos tão distante do nosso que não há como comparar. O mais difícil era observar o quanto, não importava a profissão, ainda nos valorizávamos pouco. Insegurança parecia ser a nossa marca, incerteza quanto ao que valíamos e podíamos (não só "devíamos") fazer de nós mesmas. Anos, décadas, séculos de preconceitos culturais ainda nos prendiam apesar de todas as inovações. Do que estávamos precisando?
Primeiro, de discernimento. As emoções eram confusas. Havia inquietação e descontentamento, mas a gente nem se permitia elaborar isso com mais clareza. Um desconforto moral trouxera todas àquela sala. Como agir em relação a ele? Era importante defini-lo melhor. Falando, como acontece - pois dizendo o nome das coisas começamos a ter controle sobre elas -, foram-se delimitando espaços de interrogação, clareando contornos.
Apareceram as formas do nosso mal-estar. Uma das mais importantes foi como era imprecisa a linha entre amor e servidão. Entre generosidade e autoaniquilamento. Entre adaptação e automutilação. Para qualquer mudança é necessário compreender o que há de errado em nossa relação amorosa, em nossa casa, trabalho… em nós. Em que fomos vítimas, quanto colaboramos para essa situação. O que posso fazer, como posso, será que posso ainda?
Uma palavra pronunciada, um texto lido podem nos fazer enxergar o que devia ser evidente mas não é: por ser inquietante demais é melhor que fique embaixo de todos os tapetes de nossa resignação. Íamos nos conscientizando de que amor não deve ser servidão. De que em qualquer idade podíamos apostar em nós. Era possível abrir novas portas e se preciso derrubar algumas em torno e internamente. Devíamos assumir decisões, instaurar uma nova ordem pessoal, rever contratos e firmar acertos. Muito disso nem seria falado, mas tácito. Muito teria de ser discutido, eventualmente batalhado na família ou seja onde for. Era possível uma nova maneira de existir, e isso perturbava. Houve quem questionasse se não seria preferível tudo permanecer como estava antes daquelas reuniões: na mornidão do cotidiano aceito e do sonho podado. "E agora, o que é que a gente faz?", expressavam, entusiasmadas ou assustadas. Cada uma faria ou não faria o que fosse melhor, mais sensato, viável. Para algumas a única possibilidade seria deixar tudo ficar como estava. Para todas, porém, nada mais seria o mesmo: questionar o estabelecido, ainda que eventualmente não pudesse ser modificado, era um modo de se sentirem vivas.
A questão central era sempre a relação amorosa. Com pais para algumas, com filhos para muitas, para praticamente todas a convivência com o parceiro. Mulheres que se desperdiçam em relações que as inibem ou solapam seus talentos foram educadas para agradar, não para exercer ternura, mas cumprir papéis e deveres. Base bem precária para uma interação positiva com colegas, amigos, marido ou filhos. A mãe sempre disponível e a mulher submissa, até o colega ou funcionário eternamente solícito geram nos outros culpa e hostilidade. Vive-se numa dupla solidão: a de quem se submete e de quem até sem querer subjuga.
Conviver não se torna diálogo nem parceria, mas um frustrante monólogo a dois. Mudar isso seria quase um milagre para muitas pessoas. Porém residem aí possibilidades de realização nunca antes imaginadas para cada um, ou para os dois parceiros juntos. Alterar qualquer coisa, ainda que seja o cabelo ou o lugar habitual da mesa, é difícil. Para alguém mais desestruturado pode ser uma batalha com muitos ferimentos de parte a parte. Sentir-se injustiçado machuca, mas conformar-se pode ser tentadoramente confortável: "Não há nada a fazer, comigo é assim. Meus pais, meu marido, o destino foram carrascos. Agora é tarde." Os males que outros nos causaram - ou nós nos causamos - são sentinelas acusadoras diante de nossa porta. O jeito é tentar assumir o controle sobre esses espectros para que não nos manipulem. Alguns desconsertos se arrumam com uma boa conversa, ainda que com anos de atraso, e nos surpreenderíamos vendo quantas vezes o causador desse sofrimento nada percebeu.
Outras marcas são inapagáveis, queimaram mesmo, nos deformaram. Para essas é preciso bondade, doçura consigo mesmo, sabedoria e aceitação (não usei o termo "resignação" porque não gosto dele). Muitas lamentavam o que tinham feito ou deixado de fazer anos atrás: as escolhas erradas, as omissões, a resignação e a subserviência. Insegurança, incertezas.
Casamentos infantis, decisões graves tomadas sem refletir, primeiras responsabilidades sérias quando ainda se era tão imaturo. Uma deixara de trabalhar porque vieram os filhos, e o marido não queria que ficassem com uma babá. Outra desistira de fazer mestrado porque os filhos reclamavam de sua ausência em casa. Outra ainda nem chegara a entrar na universidade porque o pai queria as filhas em casa. Uma delas teria podido fazer doutorado em outro estado, mas nem se animara a mencionar esse desejo pois o marido "ficaria furioso". Uma confessou que não queria filhos pois se sentia pouco maternal, seu desejo verdadeiro era brilhar na profissão que a apaixonava mas que só agora, filhos adultos, conseguia realmente exercer com satisfação. Então por que tivera filhos, três na verdade? Ora, porque era o que as moças faziam, o que os maridos e pais esperavam. Era assim. Relatando esses fatos antigos pareciam meninas apanhadas em falta só porque tinham ousado ter tais desejos. Uma ou outra sorriu, sacudindo a cabeça: "Meu Deus, como eu fui boba." Eram modelos das boas e dedicadas mulheres que numa relação são - mais que amantes/amigas - meninas submissas de modelos masculinos tão estereotipados quanto elas. A solidão dos seus homens certamente era vasta na medida dessa desigualdade Sugerimos que fizessem, cada uma a seu modo, uma revisão daqueles processos. Porque tinham agido de um modo ou de outro? O que podiam, agora, tantos anos depois, fazer a respeito? "Não posso fazer nada, ora, reagiu uma delas, pois passou há vinte anos, acabou, não tem jeito." A tendência é ficar arrastando esses pequenos cadáveres, os "ah, se eu tivesse.., se ele tivesse… " Posso contornar esse fosso fingindo que não há problema; deitar-me à sua beira, chorando; enterrar-me dentro dele com minhas qualidades e esperanças; disfarçá-lo com folhas, ramos, tábuas, fingindo que nada aconteceu. Tentar preencher esse saldo negativo com alguma coisa positiva, que em cada caso será peculiar.
Indagar: por que naquele momento agi daquele modo? Foi por ignorância, covardia, impulso de autodestruição? Na relativa lucidez da maturidade veremos que a maior parte desses "buracos" se tornam menos funestos quando se constata: "naquele momento, naquela circunstância, eu fiz o melhor que podia." Quase sempre havia um motivo: os filhos pequenos, problemas do companheiro, real dificuldade em se afastar concretamente da casa ou da cidade, a pressão social ou familiar, havia.., nem sempre coisas negativas. Apenas realidades com as quais se tentou lidar como se podia àquela altura. Aos poucos enfrentavam-se velhos problemas com mais lucidez: naquela ocasião eu fiz o melhor que podia, embora hoje, na maturidade, veja que podia ter agido diferente. Naquela fase, imatura ainda, eu não podia, meus pais não entendiam, meu marido não sabia.
Amadurecer serve para isso: o novo olhar, na lucidez de certo distanciamento, permite compreender aspectos nossos e alheios antes obscuros. Por vezes promove-se uma espécie de anistia. Partindo dela podem-se reconfigurar padrões. Gosto de usar a palavra anistiar - melhor que perdão, pois não tem conotação religiosa, nem dá a ideia de que somos bonzinhos perdoando alguém. Nem a nós mesmos.
Um dia sugeri que falássemos diretamente sobre o que nos dava raiva. A princípio ninguém se animou: todas com marido maravilhoso, filhos ótimos, pais uns santos, proibido sentir raiva. De repente uma, que raramente falava, começou baixinho: "E tenho raiva. Eu tenho muita raiva." Sua raiva era da mãe inválida que a atormentava com a tirania dos fracos, de alguns doentes e das crianças muito mimadas. Outra então disse ter raiva dos sacrifícios que fazia pelos dois filhos adultos que ainda moravam com ela, sempre insatisfeitos e grosseiros. Uma censurava-se por sentir raiva do marido que não lhe dava atenção nem importância. ("Para ele parece que eu nem existo, nem sou humana.")
Outras sentiam muita raiva de escolhas feitas na juventude, de que falei acima. A lista foi longa e animada. Começamos a descobrir que ter raiva (não rancor) pode ser saudável e necessário. Nunca ter raiva - não se falava de ódio ou ressentimento - é mentir para si mesmo.
Muitos desses motivos de raiva podiam ser vistos sob outro enfoque: submeter-se a filhos grosseiros é resultado de todo um processo, desde o nascimento ou antes, em que a mãe precisava sentir-se vítima, a boazinha - a sofredora. Perder as estribeiras, descer das tamancas (ou do pedestal) pode provocar uma transformação admirável numa relação.
Certamente marido e filhos deviam sentir um misto de raiva e culpa em relação àquela esposa-mãe-mártir. Quando as coisas parecem muito ruins, ensinou-me uma amiga, pode-se indagar: "é tragédia ou é apenas chateação?"
Na grande maioria das vezes é chateação. A conta atrasada, o patrão estúpido, o colega invejoso, o filho malcriado, o marido calado, a velha mãe descontente, cinco quilos a mais, as próprias frustrações. Chuva demais, sol demais. Muito frio, muito calor: de repente, cada vez que respiramos, o mundo parece acabar. Uma boa faxina nos armários do coração traz grande alívio: botamos fora as chateações ou as deixamos de lado por um tempo, e vamos lidar com as coisas graves. Aos poucos descobrimos que respiramos melhor. Podemos até mesmo sonhar. A autoestima reduzida, companheira da insegurança e do medo, nos indicara muitas escolhas erradas na juventude. A muitas de nós aprisionava ainda agora num padrão fadado a causar mal-estar no ambiente familiar, e um constante sofrimento pessoal. Se nos valorizamos pouco não só tendemos a manter as coisas como estão (ruim o que conheço, pior o que ignoro), mas tomamos - ou não tomamos - decisões por medo. Medo da solidão, de sermos incapazes de decidir sozinhas, medo da opinião dos outros, medo. Quem se subestima precisa de alguém ao lado para confirmar sua validade como pessoa. Nessa situação não se dialoga, pois o equilíbrio da balança está demais prejudicado. É surpreendente a dificuldade de mulheres, mesmo competentes, para se sentirem justificadas, validadas por si sós. "Não me sinto inteira sem um companheiro, sem poder ao menos pensar e dizer "eu tenho alguém" disse-me uma advogada. Também nas mulheres bem-sucedidas pessoal ou profissionalmente vive aquela que tem medo de ficar sozinha, que viceja melhor à sombra do outro e considera sua verdadeira vocação a de servir, de agradar, de providenciar: a gueixa.
Essa que resiste a todas as inovações e conquistas de nosso tempo.
"Homem gosta de mulher que não sabe escolher no cardápio ou finge que não sabe e deixa ele decidir", disse-me uma jovem numa fase (passageira) de desilusão. Mas quem sabe nós é que não somos muito boas em escolher o companheiro, mesmo de um jantar? E quem disse que um homem com esse gosto saberá nos valorizar, portanto será que ele nos interessaria?
Cuidado: o homem apreciador da gueixa de falinha infantil e prato preferido dele sempre à espera pode ser másculo e prepotente, mas corre o risco de tornar-se um eunuco - nas emoções, que ficarão muito limitadas.
Embora a ambiguidade nossa torne tudo mais interessante pela multiplicidade de opções e interpretações, por outro lado nos aprisiona na gangorra da indecisão. Sofremos essa divisão entre o "querer" fazer e o que pensamos "dever" fazer. Realizamos em nós a frase da nossa infância, que incansavelmente ouvi: Criança não tem querer. Permanecemos, em algumas coisas, crianças - saboreando os privilégios e sofrendo os limites dessa condição. Quem conviver conosco, marido ou filhos, vai carregar um fardo a mais, que o lisonjeia ou o deixa solitário: ter ao lado a eterna menina em quem não pode se apoiar, com quem não pode realmente partilhar a vida. Dinheiro e instrução não nos liberam facilmente da secular lavagem cerebral da nossa cultura. Passivamente ninguém derruba paredes limitadoras. E o preconceito (a "cultura") nos diz que ser ativo é coisa de homem. Que devemos ser gentis, conciliadoras, agradáveis, sedutoras, despertar no homem sentimentos de posse e proteção, controlar constantemente os filhos para mostrar o quanto somos dedicadas. Em suma, precisamos provar que merecemos afeto. Somos criadas em função do hipotético príncipe salvador que decidirá - e terá de gerir, ainda que lhe custe - o nosso futuro. E naturalmente vai nos tratar como crianças. Seremos sempre as despossuídas, sem espaço nem força de decisão. Seremos dos pais, depois do marido, dos filhos, e dos netos. Para nós sobrará o canto da mesa da sala de jantar quando quisermos escrever, o computador do filho quando nos arriscarmos pela Internet, o sofá com as outras mulheres nos jantares de casais. Atrás de nós, o terror do tempo que passa devorando uma existência que nunca aprendemos a administrar - pois jamais nos pertenceu. Pior: possivelmente nem a queríamos administrar, porque isso significaria sair da protegida resignação para o susto das decisões. Enfrentar obstáculos e exercer enfim o tão desejado - e temido - poder sobre nós mesmas. Quando aquele Anjo viesse bater à nossa porta oferecendo a chance de ainda não nos levar caso pudéssemos dar três bons motivos para isso… o que teríamos a lhe dizer além dos pretextos habituais: "marido e filhos precisam de mim, e mas eu ainda nem arrumei a casa", ou "preciso fazer as compras e preparar o jantar?" Não se iludam: isto de que estou falando não acontecia só no começo do século passado, nem ocorre, hoje, apenas entre mulheres mais desinformadas ou simples. Embora tenha evoluído muito, a situação de homens e mulheres - pois se falo de uma, fatalmente estou envolvendo o outro - está em plena mutação. Muito resta a cumprir para se poder falar em verdadeira parceria. Ela exige equilíbrio: entre servo e senhor não existe diálogo.
Uma das queixas repetidas em nossos encontros era - nada original - não haver diálogo com maridos e namorados. "Mas você tentou dialogar, alguma vez tentou conversar com seu marido, seu namorado, até seu filho?" "Ah, não adianta… homens não gostam de falar… têm dificuldade com palavras, não têm jeito com elas… fogem da emoção.., são uns covardes. É da natureza deles." Será mesmo?
Ou nós impedimos os nossos homens de falar porque exigimos demais, exigimos que sejam como nós, que falem a nossa língua - se eles sempre falarão na linguagem dos homens? Nós realmente lhes abrimos espaço ao nosso lado, nós de verdade os estimulamos, e os escutamos, somos parceiras - ou quando chegam em casa despejamos em cima deles uma tonelada de queixas sobre a casa, a empregada, as crianças, o trânsito, os preços do supermercado… como se esta, a nossa imediata, fosse a única realidade? Não é impossível pessoas que falam idiomas diferentes se entenderem: com mímica, expressão, olhar, entonação de voz, alma e corpo e um gostar-se que dispensa tudo isso. Não houve apenas um desfiar de dores e queixas, mas vivenciamos muitos momentos de riso e bom humor. Falou-se na importância do bom-humor para conviver, para viver, para saborear positivamente as transformações todas: "em certos momentos não é o amor que nos salva", me dizia um amigo, "é o humor". O bom-humor é uma qualidade atraente e uma atitude sábia. Não se trata de sarcasmo, de divertir-se à custa dos outros, mas de rir de si mesmo na hora certa, respeitar-se e amar-se, mas não se julgar sempre injustiçado e agredido. Pode ser um último recurso: "Ou tento sorrir, até de mim mesma, ou corto os pulsos", me disse alguém com razões para se desesperar. E sorriu para mim, como quem diz: eu vou conseguir, a gente vai conseguir, afinal vale a pena. Não posso fazer piada quando perco um amante ou amigo, quando descubro que estou doente ou fico sem meu emprego.
Bom-humor não significa piadas: é o sorriso afetuoso, o silencio carinhoso, o colo acolhedor aberto ao outro e para mim mesma. Nossa evolução, as imposições do nosso grupo e cultura, nossos próprios fantasmas, exigem muita energia, vontade e uma pitada de bom-humor para serem domados - e não nos devorar sem cerimônia e sem compaixão.
Pretendíamos um trabalho breve só com mulheres. Mas ao fim de quase um ano de sucessivos grupos, quando já pensávamos em suspender o trabalho por excesso de outros compromissos, havia uma lista de dez homens que desejaram participar. Fizemos então um último grupo, desta vez só de homens. "Por que não misturaram?", sempre nos perguntam. Porque não tínhamos ideia da dimensão que aquilo tomaria. De nossa vontade de reunirmos um ou dois grupos, apenas porque eu queria tomar o pulso das mulheres, chegamos a mais de dez. Nunca tive intenção de juntar homens e mulheres, pois tínhamos apenas quatro encontros cada vez, e não haveria tempo de se instalar a desejada espontaneidade. Eu estava curiosa pelo que diriam homens sobre o assunto das perdas e ganhos do amadurecimento.
Pois o grupo masculino teve resultados comoventemente parecidos com os das mulheres: questionavam suas escolhas, ressentiam-se do envelhecimento, sofriam com o medo de perder a potência (também a econômica e a autoridade), de perder a saúde e a forma física.
Aborreciam-se pois, ainda que exaustos, lhes parecia impossível parar ou reduzir o ritmo de trabalho: mulheres e filhos dependiam demais deles. Eram onerados pela preocupação pelos filhos e culpa por achar que haviam falhado na família: podia ter havido mais diálogo, dedicação e tolerância. Muitos sentiam-se isolados dentro da própria casa. O laço singular entre mãe e filhos os deixava de fora. "Os filhos só vêm até mim para pedir dinheiro", lamentou um deles, "quando querem amizade, contar coisas pessoais, procuram a mãe." O não coração dos filhos, mesmo rapazes, era um terreno onde conseguiam andar direito. Haviam-lhes ensinado, aliás desde cedo, que no território de mãe e filhos o homem era um intruso.
"Cuidado, você vai deixar o bebê cair! Homem não tem mesmo jeito com criança. Deixa que eu mesma cuido disso, você pode ler seu jornal, ver seu futebol." Não são frases que fabriquei agora mas pronunciadas por muitas de nós mesmas àqueles que mais tarde acusaríamos de serem "distantes" dos filhos. Quem sabe agimos assim para sermos as únicas donas daquele que julgamos nosso único verdadeiro bem, nosso "objeto" mais pessoal, produto nosso, saído de nós - o "nosso" filho? Mulheres levantam paredes em torno da sua relação com o filho e deixam o homem de fora. Naturalmente passarão a vida queixando-se de que ele não se interessava pelo bebê, não sabia o que fazer com os filhos.
A solidão dos homens me pareceu mais árida do que a das mulheres, que têm outros tipos de laços afetivos: família, amigos, até mesmo sua casa.
"Os rapazes, meus colegas" dizia uma universitária, "quando conversam entre si contam vantagens, falam de dinheiro, futebol, política e mulher. Nós, as moças (algumas eram já casadas), quando nos reunimos, trocamos confidências ou nos queixamos (das mães, das empregadas, dos filhos, dos deveres em casa, ou… dos homens)." Entre o papo superficial com os amigos e o receio de decepcionar ou assustar (ou irritar?) as mulheres com sua própria fragilidade, com suas preocupações mais íntimas ou seus dramas, os homens silenciam. Com suas mulheres muitas vezes queixosas, obsessivamente encerradas na sua maternidade, consumindo-se nos cuidados domésticos ou em uma excessiva futilidade, resta-lhes o papel de provedor. A necessidade de ter alguém com quem dialogar, com quem realmente se abrir, era quase uma constante em seus comentários: "Com meus amigos, falo dessas coisas que homem fala: política, futebol… com a mulher, não quero me abrir porque ela logo fica nervosa, e me cobra mil coisas… e aos filhos, ah, esses eu tenho de proteger, não é?" Quase sempre há coisas a melhorar, e quase sempre podem ser melhoradas. Não é proibido questionar, esclarecer, explicar. Não é vergonhoso realizar o sonho de estudar, de abrir uma loja, de fazer uma viagem, de mudar de profissão. Mudar um relacionamento. Mais fácil é a resignação: morrer antecipadamente.
Velhos casais ressentidos ou jovens casais solitários dentro de casa são terrivelmente tristes e terrivelmente comuns.
"Quando estou deprimido, levantar da cama (e não me arrastar pela casa) já é um ato heroico", comentou alguém. Viver é um heroísmo, viver bem um longo amor é mais heroico ainda. Viver sozinho se meu amor fracassou é uma batalha por mera sobrevivência. Porém, só manter a cabeça à tona d'água num casamento, é suficiente? Um amigo disse no aniversário de sua mulher uma das coisas mais bonitas que ouvi: "Todos os dias de nosso casamento (de uns 40 anos), eu te escolhi de novo como minha mulher." O casal mais feliz haveria de ser aquele que não desiste de correr atrás do sonho de que, apesar dos pesares, a gente a cada dia se olharia como da primeira vez, se enxergaria - e se escolheria novamente.
Um dia me pediram para escrever sobre "o casal perfeito": bom para quem gosta de desafios. Minha primeira providência foi cercar com aspas o vocábulo "perfeito". O que justificaria o rótulo sobre o qual eu devia escrever? Imediatamente ocorreu-me que parceiros de um casal "perfeito" precisam se querer bem como se querem bem os bons amigos, e temperar esse afeto com a sensualidade que distingue amizade de amor. Duas pessoas que compreendem, sem ressentimento nem cobranças, a inevitável dose de peculiaridades do ser humano e sua dificuldade de comunicação.
Em última análise, toda a sua complicação. A melhor parceria deve ser aquela em que um aceita o outro sem ter de se submeter a qualquer coisa pelo outro; em que um aprecia e admira o outro, mas tem por ele ternura e cuidados.
Sobretudo aquela em que um parceiro não investe no outro todos os seus projetos, à primeira decepção passando de amor a rancor. Se o outro servir de cabide para os nossos sonhos mais extravagantes de perfeição, o primeiro vento contrário derruba o pobre ídolo que não tem culpa de nada. No casamento saudável, há um propósito geral: quero passar com você o melhor de meus dias, construir com você uma relação gostosa, importante e definitiva. É importante não correr para os braços do outro fugindo da chatice da família, da mesmice da solidão, do tédio. E essencial não se lançar no pescoço do outro caindo na armadilha do "enfim nunca mais só!", porque numa união com expectativas exageradas decreta-se o começo do exílio. Amor bom, além do mais, tem de suportar e superar a convivência diária. A conta a pagar, a empregada que não veio, o filho doente, a filha complicada, a mãe com Alzheimer, o pai deprimido, ou o emprego sem graça e o patrão grosseiro. Quando cai aquela última gota - pode ser uma trivialíssima gota -, a gente explode.
Quer matar e morrer, e nos damos conta: nada mais em nossa relação é como era no começo. Não é nem de longe como planejávamos que fosse. Não queremos continuar assim, mas não sabemos o que fazer. Ou sabemos, mas nos parece inexequível. Na verdade, na parceria amorosa como em tudo o mais recomeçamos tudo todos os dias. Então podemos tentar começar diferentes também aqui e agora. O cotidiano conforta, os seus pequenos rituais são os marcos de nossa vida mais segura, mas também traz desencanto e monotonia. 78 Precisamos de criatividade num relacionamento amoroso, dizem. O problema é que quando se fala em "criatividade" numa relação a maioria pensa logo em inovações no sexo, como se a solução estivesse em novas posições, outro perfume, artifícios exóticos. Transar bem é resultado, não meio.
Como deveriam ser os filhos: fruto de um afeto vivo, não instrumento para consertar o que está falido. Passada a primeira fase de paixão (desculpem mas ela passa, o que não significa tédio nem fim de tesão), a gente começa a amar de outro jeito. Ou a amar melhor; ou: aí é que a gente começa a amar; a querer bem; a apreciar; a respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir falta; a conceder espaço; a querer que o outro cresça e não fique grudado na gente. "Se você ama alguém, deixe-o livre", estava escrito no bilhetinho que foi um dos maiores presentes que me deu alguém entre tantos muitos outros bens. Um pouco de lucidez e um bocado de maturidade (ah, que boa coisa, o tempo) há de mostrar se - e o quê - pode ser ainda conquistado a dois. Isso entendido, chega o momento da definição: e agora, o que fazer? Investir, se há mais possibilidades do que vazio. Como a gente não desiste fácil - porque afinal somos guerreiros ou nem estaríamos mais aqui, e porque há os filhos, os compromissos, a casa, a grana e até ainda o afeto - "vamos criar um jeito de reconstruir o que parece esfarelado. Isto é: quando há vontade, afeto, quando resta interesse. Desde que seja uma reinvenção a dois, não a submissão de um e o exílio de outro. Pois o espaço entre opressor e oprimido é um vazio. Mas e quando realmente nada mais resta de positivo?
Laços podem ser reconstituídos, remendados ou cortados. O corte se faz com mais ou menos generosidade, carinho ou hostilidade e raiva - sempre com dor. Porém nenhuma união deveria ser a sentença definitiva de aniquilamento mútuo dentro de uma jaula.
Como invento histórias, gosto de fábulas. Trabalho com elas, pois são o espelho da realidade. E porque gosto de histórias de anjos, aqui vai mais uma. Esta fala de amor, de parceria no amor, de encontrar quem possa ser nosso cúmplice, muito além e acima de convenções, receitas e "modas". Era um homem, um homem comum, que um comum destino parecia controlar inteiramente. Um animal doméstico bem treinado. Um dia sentiu um incômodo nos dois ombros, distensão muscular, má posição no trabalho… Foi piorando e resolveu olhar-se no espelho, de lado, inteiro e nu depois do banho: não havia dúvida, duas saliências oblíquas apareciam em sua pele abaixo dos ombros. Teve medo mas decidiu não comentar com ninguém, e como não transava frequentemente com a mulher, conseguiu esconder tudo quase um mês. Fez como via fazer sua mulher: pegou de cima da pia um espelho redondo no qual ela ajeitava o cabelo, e passou a analisar todo dia aquele fenômeno que, em vez de o assustar, agora o intrigava. Curioso mas sem sofrer - pois não doía -, foi observando aquilo crescer. E pensava: Nem adianta ir ao médico, porque se for um tumor (ou dois) tão grande, não tem mais remédio, é melhor morrer inteiro do que cortado. Certa vez, quando se masturbava no banheiro, na hora do prazer sentiu que elas enfim se lançavam de suas costas, e viu-se enfeitado com elas, desdobradas como as asas de um cisne que apenas tivesse dormido e, acordando, se espojasse sobre as águas. Ficou ali, nu diante do espelho, estarrecido. Ora ele não era apenas um homem comum com contas a pagar, emprego a cumprir, família a sustentar, filhos a levar para o parque, horários a cumprir: era um homem com um encantamento. Eram umas asas muito práticas aquelas, porque desde que usasse camisa um pouco larga acomodavam-se maravilhosamente debaixo das roupas. Em Certas noites, quando todos dormiam, ele saía para o terraço, tirava a roupa e varava os ares. Sua mulher notou alguma coisa diferente no corpo de seu marido. Estava ficando curvado, tantas horas na mesa de trabalho. Nada mais que isso. Embora a mãe lhe tivesse dito que "com homem é sempre melhor confiar desconfiando", daquele seu homem pacato ela jamais imaginaria nada muito singular. - Você vai acabar corcunda desse jeito, aprume-se - ela dizia no seu tom de desaprovação conjugal. As coisas se complicaram quando, já habituado à sua nova condição, o homem-anjo olhou em torno e, sendo ainda apenas um homem com asas, sentiu-se muito só. E começou a pensar nisso. E olhou em torno e se apaixonou. Na primeira noite com sua amante, esqueceu o problema, tirou a roupa toda, e quando ela começava a apalpar-lhe as costas o par de asas se abriu, arqueou-se unindo as pontas bem no alto por cima dele, na hora do supremo prazer.
Mas essa mulher/amante não se assustou, não se afastou. Apertou-se mais a ele, e dizia: vem comigo, vem comigo, vem comigo… E abriu suas asas também. (Histórias do tempo, 2000)
Amor é tarefa complexa além de tudo porque para amar preciso primeiro me amar. Dentro e fora são reflexos mútuos, como dois espelhos em lados opostos. Vou procurar um amor bom para mim - no qual me reconheço e me reencontro, me refaço e me amplio, me exploro, me descubro - se minha imagem interior me levar a isso. O amor mais que tudo nos revela: manifesta nossas tendências, o que preferimos e escolhemos para nós.
Quero, mereço ser e fazer feliz ou preciso me punir e castigar ao outro; mereço e posso crescer ou me aniquilar.., e ao outro comigo? "Escolha" amorosa pode parecer contradição. Antigamente falava-se em "escolher marido, escolher esposa". Sempre tive quanto a isso grandes reservas.
Hoje penso que é uma escolha, sim, mas não aquela a que tais conselhos se referiam: trate de escolher bem seu marido, sua mulher. A ideia, explícita ou não, era: que o marido te dê segurança econômica, que a mulher seja virtuosa e cuide bem da casa e dos filhos. Isso fala de arranjos e conveniências, de modelos rígidos impostos de fora. Amor é outro tipo de escolha. O homem com asas deparou com sua amante alada, aparentemente por acaso: foi na verdade sua escolha mais vital de uma parceria. Esse encontro se dá no escuro do desconhecimento mútuo. É em parte consciente, segundo nosso agrado e necessidades, o projeto que tínhamos, o modelo que queremos. Mas é bastante inconsciente, brota dos impulsos mais primários daquele nosso eu dissimulado sob muitas máscaras. Essa é a opção mais grave: nasce de toda a perspectiva interior. Na escolha do parceiro opto pelo que julgo merecer. E aí é que podemos apunhalar o próprio peito. Escolho conforme minha saúde emocional ou minha doença, meus desejos mais obscuros, meus movimentos inconscientes em direção de afirmação ou destruição. Nosso lado mais oculto sente, fareja: aqui devo investir minha emoção, aqui conseguirei me doar, aqui há alguém com quem posso pensar em construir um relacionamento.
No amor pensamos viver finalmente o mito da fusão com o outro. Queremos perder a identidade nas mãos daquele que de momento é "tudo" para nós. A paixão inicial quer ver e mostrar. É compulsão de nos abrirmos com o outro e mergulharmos nele, revelando os menores detalhes de nosso corpo e alma, incansáveis relatos do passado, trocas que parecem levar à sonhada união total. Sabemos cada momento do seu horário, com quem fala, onde esteve e pretende ou sonharia estar a tal e tal hora - maneira de estarmos sempre juntos, confirmação de afeto e interesse. Porém uma ligação amorosa é uma longa elaboração: enfrenta toda uma série de transformações de parte a parte. Mudamos e os parceiros não mudam necessariamente no mesmo ritmo, com a mesma intensidade ou no mesmo sentido.
O instinto e o afeto é que fazem com que os bons casais, os casais amorosos, usem dessas fases de crise para se renovar e crescer, se possível juntos. Desde que o instinto seja saudável, o afeto seja bom, a personalidade aberta. Não há receita. Não há escola. Não há manual. Um dos parceiros fatalmente envelhece antes, adoece mais. Pode ter reveses financeiros, pode ter fracassos profissionais. Pode evoluir com a idade e as circunstâncias, ou ficar atrás em relação ao outro. Instala-se entre ambos o jogo de poder em que o mais fraco tiraniza aquele que (nem sempre as mulheres) se submeteu mais, abdicou de mais coisas. Sendo vulneráveis e culpados essenciais, aquele que está em vantagem (o que quer que isso signifique) pode ceder a chantagens, podar suas asas e truncar seu destino para não "humilhar" o parceiro. Se for mulher, mais complexo o drama. Porque é convenção nossa (quem sabe ainda legado primitivo das cavernas) que o homem seja o forte e a mulher a frágil, o homem o dono do dinheiro (= poder) e a mulher a que vive de mesada.
Conheço mulheres de sucesso que a cada fim de mês entregam o dinheiro para que o marido o administre, porque se sentem incapazes, ou pior: temem que serem capazes deixe o marido inseguro e agressivo. Uma terapia dos dois, ou a dois, de um deles ao menos, um aconselhamento que seja, pode ser uma excelente ferramenta. Férias longe de trabalho e filhos, oportunidade de reencontro e conversas honestas. Mas frequentemente aquele que poderia dar o passo decisivo e consertar sua vida - mesmo dentro dessa relação - não se permite isso. A culpa não deixa. O medo de perder o parceiro não permite. O receio da solidão, pior ainda. Tudo fica como está: por baixo das aparências corre o rio turvo do lento e tácito suicídio a dois, físico ou moral. É a morte das alegrias e da ternura, um acordo fatal no qual a esperança fica revogada. A culpa, disse alguém, é como uma mala cheia de tijolos, peso inútil que carregamos de um lado para outro sem objetivo algum. Haveria só uma solução: jogá-la fora inteira ou ao menos parte dela. Mas regras autoimpostas, acordos nunca verbalizados, ajustes aparentemente necessários para evitar um conflito que poderia ser salutar - nem falo da guerra surda que se desenrola tão seguidamente entre casais -, ou comodismo, nos impedem de agir. Levantam aquelas intransponíveis colunas de Hércules que serão derrubadas algum momento mais tarde com violência e dor, ou serão o monumento em honra de duas existências boicotadas.
Escrevendo sobre amor não posso falar apenas de mulheres submissas.
Conheço maridos tão controlados pela parceira que não sobra espaço para novas amizades, nem para simples troca de idéias e estímulos - ainda mais se for com outra mulher. Numa casa que frequentei em mocinha, o marido e os filhos homens ao chegar na porta de entrada precisavam tirar os sapatos: havia chinelos à espera dos pobres. "Não entrem na minha casa com seus sapatos sujos!", esbravejava o general de saias que comandava, mais que uma casa, uma jaula.
A personalidade esmagada sonha com uma saída. Eventualmente, se ela aparece e é mais atraente, ocorre uma ruptura sob o infalível comentário de quem está de fora: "Mas, como? Pareciam se dar tão bem!" Aqui vale um PS: a atração fora do laço de uma união que se tornou mortal não precisa ser "outra pessoa", mas uma oportunidade de crescer, de viajar, de estudar, de sair do emprego, de travar nova amizade. Poder ser alegre, poder respirar. Poder confiar. Não se sentir fiscalizado ou ignorado.
Mas a gente pode optar por deixar tudo como está: é assim. Às vezes realmente não há maneira de escapar. Nesse caso, se aquele anjo da sombra ou da luz batesse à porta, não saberíamos dar nem ao menos uma boa razão, só nossa, para que ele não nos levasse, encerrando algo que na verdade já estava cancelado.

— Lya Luft, no livro "Perdas e ganhos". Rio de Janeiro: Record, 2006.
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