A libélula - Ondjaki

©Saundra Lane


a libélula
(palavras para o Dr. Carvalho)

se destas pedras
uma anunciasse
o que a faz silêncio:
aqui, muito perto,
[...] isso se abriria, como ferida
em que terias de mergulhar
PAUL CELAN, A força da luz

Um som fluido abandonava a casa, roçava na poeira das trepadeiras no jardim, influenciava as mangas e os mamões no seu processo de maturação, arrepiava uma libélula inebriada que ali adormecera, fazia o sol abrandar e chegava, ainda forte, ainda nítido, ao ouvido da mulher. Depois disto, um sorriso.
Na aparelhagem o som acontecia contínuo, ininterrupto. O doutor solidificara este hábito domingueiro: sentar-se no fresco da sua varanda ouvindo, durante extensos momentos, a voz de Adriana Calcanhotto. Ora dormitava, ora lia, ora escrevia, ora se quedava simplesmente de olhos rasgados contemplando as nuvens gordas azularem o céu. Para ele não se tratava de beatificar um domingo, mas sim a própria paz. Aliás, “domingo” era, para o doutor, uma palavra muito interna. Fosse um poço.
Pressentindo isto — que o doutor se apresentava em pleno estado de domingo —, a mulher hesitou. Encostou a testa ao ferro do portão e quis acreditar no impossível: que não tinha sede. A testa latejava; os olhos se queriam, de fato, fechar, olvidar o mundo, cessar a prestação de serviços visuais. O frio do portão trouxe-lhe agrado aos dedos, ao coração também. A música invadia-lhe os poros. Então, aí sim, ela partilhou uma sensação com o doutor. Ele, no mesmo instante, pensava: esta voz pode ser dividida. A voz de Adriana, empurrando a tarde: “será que a gente é louca ou lúcida... quando quer que tudo vire música”.
No intervalo de voz, a libélula decidiu acordar, mover-se em zum-zum aberto, e aterrizar junto aos apontamentos do doutor. Gatafunhos, memórias recusadas, esquebras de horas mais sensíveis que escusava aceitar como suas. “Eu perco o chão, eu não acho as palavras”, a voz cantava. Há anos que o doutor acertara as contas com os animais e se apaziguara numa relação equilibrada com eles. Mantinha uma relação ainda conflituosa com as baratas e os sardões, mas já não era homem para matar. Em vez disso, usava sorrir. Não raras vezes, pela manhã, sentia saudades de ver correr olongos como vira na infância, na província do Namibe; também por vezes, na praia, encontrando cavalos suados se detinha, de olhos a quererem fechar, saboreando o odor forte a pelo de cavalo suado. Se feliz ou em vésperas de viajar, sonhava com borboletas brancas ou amarelas, e não procurava interpretar o sonhado. Há anos que fizera as pazes com os animais, incluindo a espécie dengosa dos gatos, à qual ele mesmo infligira uma baixa mortal. Os gatos, essencialmente os gatos, haviam-no reaproximado dos bichos.
Foi depois da libélula que reparou na mulher encostada ao seu portão, de olhos fechados, pareceu-lhe, a ouvir a música de Adriana: “tenho por princípios nunca fechar portas, mas como mantê-las abertas o tempo todo...”.
Descruzou as pernas; lentamente as desceu da outra cadeira; enfiou as sandálias. Andando, mirava a tranquila libélula caminhando sobre as suas letras, sobre o cheiro da sua tinta 971 violet. Era tinta um tanto pegajosa, exigia mesmo um ritmo acelerado de escrita pois, em contato com o ar, era veloz em solidificar. Mas a libélula, pouco curiosa, não chegaria ao frasco, não beberia. Um degrau, dois. Está junto ao portão e a mulher, ao contrário do que ele desejava, não abriu os olhos. Mas falou.
— Desculpe interrompê-lo...
Nem foi susto nem foi coisa de se descrever. Simplesmente o doutor não contava com aquela noção de proximidade.
— Reconheço o cheiro da tinta... O senhor escreve com uma pena?
— Não... Isto é... Bom, é uma espécie de pena.
O portão estava destrancado. Ele fez menção de o abrir, ela descerrou os olhos, afastou-se ligeiramente das grades.
— Desculpe interrompê-lo, mas estou com muita sede — ela, talvez esperando que o doutor revelasse se desculpava ou não a intromissão.
O portão foi aberto pela mão certeira do doutor, enquanto a outra executava um gesto afável que a elucidou. Aquele homem não era facilmente perturbável. “Lá mesmo esqueci que o destino sempre me quis só...”, cantava Adriana.
— Água ou refrigerante? — o doutor.
— Água, por favor.
A mulher viu a libélula parada. Tinha a cor demasiado viva para estar morta ou embalsamada, mas era totalmente imune ao vento que balouçava as folhas de papel. Aproximou-se da mesa sem se sentar — a mulher. Por curiosidade olhou as letras sobre o branco, não no intuito de ler a composição, mas pelo hábito de apreciação estética da ortografia masculina. Era, viu depois, uma “espécie de pena”, como lhe dissera o doutor, a que havia produzido aqueles gatafunhos encantadores. Não resistiu e chegou a mão perto: parecia cristal.
— É de vidro. Vidro mesmo. Não é bonita? — o doutor.
— Muito... É uma pena muito especial — a mulher.
A água, num copo normal, chegou-lhe às mãos. O doutor entretanto pousou o jarro no lado longínquo da mesa, sem perturbar a libélula. Convidou a mulher a sentar-se.
— Obrigada. O senhor deve estranhar, não?
— Estranhar?
— Pedirem-lhe água. Já ninguém toca às campainhas para pedir água, não é?
— É. A senhora não é de cá, pois não?
— Não.
A mulher serviu-se novamente. Bebia devagar, como convinha.
— Contava uma avó minha que, certa ocasião, em Silva Porto, um senhor lhe entrou pela casa adentro cheio de sede e lhe pediu água. A minha avó voltou à sala com um jarro de água muito fresca e viu-o beber três copos de água de seguida, sem parar.
— Foi?
— Foi. O senhor só teve tempo de lhe devolver o jarro, pois o copo partiu-se enquanto ele tombava no chão. Morreu ali mesmo, sabe? Desde então a minha avó vivia a contar esta estória, de resto, verdadeira, pois foi-me confirmada pelo meu avô — terminou o doutor.
— Não me assuste.
— Não foi para assustá-la, desculpe.
— E o que lhe disse o seu avô?
— Sabe, o meu avô era um homem de invulgar humor e sensibilidade. Em criança confirmou-me toda a estória e por fim disse-me: esse homem nem agradeceu a água à tua avó.

A mulher pousou o copo, respirou fundo.
— Sabe porquê que pedi água aqui na sua casa?
— Não.
— Por causa da música... Esta voz tão doce.
— Adriana.
— Como?
— Adriana Calcanhotto, cantora brasileira.
— É poeta?
— Também.
— Não... O senhor. O senhor é poeta?
— Ah, eu! Não, sou médico. E a senhora?
— Eu estou cá de férias.
A libélula progrediu no terreno. Finalmente mexeu-se, mas caminhando.
Na expressão de ambos era visível o espanto de duas crianças que atentas e boquiabertas assistissem, de repente, ao movimento gracioso de uma pedra. A libélula caminhou em direção ao objeto. Num breve sacudir de asas saltou e voltou a estar quieta — uma guerreira demarcando o território conquistado. “E a treva entre as estrelas só para mim”, a cantora progredia na varanda, na tarde.
O objeto era uma espessa redoma de vidro, certamente cara, que protegia uma pedra minúscula, cinzenta, banal. Uma pedra pequenina, era o máximo que se poderia dizer. Nem graciosa, nem peculiar, nem mesmo exótica ou atraente. Era uma pedra brutalmente vulgar. A instalação, contudo, valorizava a pedra.
— Julgo que o valor dessa pedra não pode ser medido pela sua aparência. É assim?
— Sim.
— Mas esta redoma parece muito bem trabalhada...
O doutor, num gesto resoluto, abanou a libélula — uma surpresa para a mulher e para a libélula. O inseto voltou a pousar sobre as letras. A pedra e a sua redoma foram arremessadas ao chão. A mulher não teve tempo de invocar um susto. O objeto bateu ruidosamente no chão por duas vezes e, após rolar alguns centímetros, terminou a digressão. O doutor pegou no objeto e voltou a pousá-lo sobre a mesa, ao pé das letras, dos papéis, da libélula. O inseto, num breve aspergir de asas, realcançou o seu posto.
— Nem todo vidro é frágil, dizia o meu avô. Esta redoma é muito boa para proteger objetos valiosos.
A mulher voltou a sentir sede mas não quis incomodar.
— Uma oferta?
— Sim, uma oferta muito especial, muito sincera.
— Os médicos recebem muitas ofertas?
— Algumas, é uma maneira das pessoas expressarem carinho e gratidão.
E calou-se.
A mulher não queria partir mas julgou estar a forçar o momento. O doutor mantivera-se calado por mais de cinco minutos. À mulher pareceu justo que fosse sua a iniciativa de partir. A música parecia terminar, e a voz era uma voz difícil de recordar no ouvido da memória.
— Adriana, disse?
— Adriana Calcanhotto. Brasileira.
— Muito obrigada pela água.
— De nada. Já sabe, beba sempre devagar.
— E agradeço antes de morrer!
O doutor quase sorriu. Os lábios contorceram-se; apenasmente uma tentação de sorriso. Talvez.
O portão foi aberto. A mulher, pegando propositadamente nas grades, reconheceu a sensação de frieza na pele.
— Sabe, foi num domingo — iniciou o doutor. — Fui chamado à frente de combate e ninguém queria operar o homem: tinha uma espécie de explosivo preso à perna. Era uma operação muito delicada, ainda hoje penso nisso. Tive que fazer tudo muito devagar, enquanto o homem sofria com as dores, e ambos tínhamos que ser pacientes. Quase no fim, o soldado disse-me: deixa-me morrer, tou muito cansado já. Eu respondi: já te deixo morrer, deixa-me só salvar-te primeiro.
— Ele morreu?
— Não. A operação correu bem. Ele, no fim, quis dar-me uma prenda. Como não trazia nada, descalçou a bota e disse: agora já sei porquê que a pedra anda a me incomodar há dois dias. Toma lá, doutor, só pra não esquecermos esta nossa conversa de hoje. Você ficas com a pedra, eu fico com a cicatriz.
O portão fechou-se. A sede tinha passado. A mulher, caminhando lentamente pelo passeio, entendeu que era a pedra que valorizava a instalação. Ouviu passos. A música recomeçou: “minha música quer estar além do gosto, não quer ter rosto, não quer ser cultura”.

Entre duas folhas acastanhadas — numa janela de poeira — a mulher viu: a libélula, parada, ondululava o corpo. Fosse uma dança. Sob as suas patas, a pedra brutalmente vulgar repousava. Entre a memória do homem e a redoma inquebrantável de vidro.

- Ondjaki, no livro "E se amanhã o medo". Coleção Ponta de Lança. Rio de Janeiro : Língua Geral, 2010.


Mais sobre o autor:

Criança - Rubem Alves

Lucy Fleming

Criança

As crianças ignoram os relógios. Os relógios têm a função de submeter o tempo do corpo ao tempo da máquina. Mas as crianças só reconhecem os seus próprios corpos como marcadores do seu tempo. Se as crianças usam relógios, elas os usam como se fossem brinquedos. Que maravilhosa subversão! Usar a gaiola do deus Chronos como brinquedo de Kairós, o deus do tempo da vida.
As crianças, do jeito como saem das mãos de Deus, são brinquedos inúteis, não servem para coisa alguma... Crianças não são para ser usadas como ferramentas. Elas são para ser gozadas, como brinquedos...
Os olhos, diferentemente do resto do corpo, preservam para sempre a propriedade divina do rejuvenescimento. O sábio é um adulto com olhos de criança.
Janucz Korczak foi um dos grandes educadores do século passado. Foi mansamente com as crianças do seu orfanato para a câmara de gás de um campo de concentração nazista. Ele deu a um dos seus livros, o título Quando eu voltar a ser criança. De acordo com a Adélia Prado, que rezou: “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande...”.
Quero voltar para as crianças. A razão? Por elas mesmas. É bom estar com elas. Crianças têm um olhar encantado. Visitando uma reserva florestal no estado do Espírito Santo, a bióloga encarregada do programa de educação ambiental me disse que é fácil lidar com as crianças. Os olhos delas se encantam com tudo: as formas das sementes, as plantas, as flores, os bichos, os riachinhos. Tudo, para elas, é motivo de assombro. E acrescentou: “Com os adolescentes é diferente. Eles não têm olhos para as coisas. Eles só têm olhos para eles mesmos...”. Eu já tinha percebido isso. Os adolescentes já aprenderam a triste lição que se ensina diariamente nas escolas. Aprender é chato. O mundo é chato. Os professores são chatos. Aprender, só sob ameaça de não passar no vestibular. Por isso quero ensinar as crianças. Ensiná-las para que elas se encantem com o mundo. Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do banal. Tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, um ninho de guaxinim, uma concha de caramujo, o voo dos urubus, o zinir das cigarras, o coaxar dos sapos, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Dessas coisas, invisíveis aos eruditos olhos dos professores universitários (eles não podem ver, coitados. A especialização os tornou cegos como toupeiras. Só veem dentro do espaço escuro de suas tocas. E como veem bem!), nasce o espanto diante da vida; desse espanto, a curiosidade; da curiosidade, a “fuçação” (essa palavra não está no Aurélio!) chamada pesquisa; dessa “fuçação”, o conhecimento; e do conhecimento, a alegria!

— Rubem Alves, no livro "Do universo à jabuticaba". São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.



Saiba mais sobre Rubem Alves (biografia, obras e citações).

O outro - Carlos Drummond de Andrade

©Taryn Knight

O outro

Na redação, o secretário fazia a cozinha do jornal, quando a senhora, não primaveril, mas ainda não invernosa, dele se aproximou timidamente. E sacando da bolsa um recorte de suplemento, perguntou-lhe se sabia o endereço de Emílio Moura, autor dos versos ali estampados.
O secretário explicou-lhe que o assunto era da competência do Silva, encarregado da seção literária. O Silva não ia demorar, estava na hora dele. Não queria sentar-se, esperar?
Ela recolheu cuidadosamente o fragmento e dispôs-se a aguardar o Silva, que, como acontece nessas ocasiões, tardou um pouquinho. Mas que tardasse dois anos, não fazia diferença, a julgar pelo semblante da senhora, de paciente determinação.
Diante do Silva, exibiu novamente o papelzinho e fez-lhe a pergunta.
— Endereço do Emílio Moura? Pois não, minha senhora. Com licença, deixe ver aqui no caderninho: rua tal, número tal, em Belo Horizonte…
O rosto da senhora se transfigurou:
— Belo Horizonte? O senhor tem certeza de que ele está em Belo Horizonte?
— Se está, no momento, não sei, minha senhora. Mas sempre morou lá, isso eu posso lhe garantir.
Nova mutação se operou na fisionomia da visitante, onde o desaponto parecia querer instalar-se, mas era combatido pela dúvida:
— O senhor… o senhor conhece pessoalmente Emílio Moura?
— Conheço, sim. Há muitos anos.
— Muitos? Que idade tem ele, mais ou menos?
— Fez cinquenta há pouco tempo, a senhora não leu nos jornais a comemoração?
— Tem certeza de que não está enganado? Perdoe a insistência, mas podia me fazer o retrato físico de Emílio Moura?
— Perfeitamente. Trata-se de um senhor alto, magro, cabelos ainda pretos, pequena costeleta, bigodinho, usa piteira e fuma cigarro de palha. Que mais? Meio calado, extremamente simpático, muito querido por todos. Completo a ficha: professor da Universidade, casado, com filhos.
A senhora olhava para o papel, dobrava-o, esboçava o gesto de jogá-lo fora, depois o desdobrava e alisava com carinho. E, na ponta de um longo silêncio:
— Sr. Silva, este pedacinho de jornal me trouxe uma grande esperança e agora uma profunda decepção. Muito obrigada. Desculpe.
Ia retirar-se, sem que o Silva compreendesse níquel, mas voltou-se, e rapidamente desfolhou esta confidência:
— Há quatro anos ando à procura de Emílio Moura. Éramos muito amigos, ele fazia versos lindos, que eu, na qualidade de sua maior amiga, lia em primeira mão. Um dia, contou-me que ia viajar para Montevidéu, onde ficaria algum tempo. Escreveu-me de lá duas vezes, e da segunda anunciava que seguiria para o Canadá. Nunca mais tive a menor notícia. Ninguém sabe informar nada. Quando li no jornal esta poesia com o nome dele, fiquei cheia de esperança, mas agora não sei o que pensar. O senhor me diz que Emílio Moura tem cinquenta anos e é professor em Belo Horizonte. O que eu conheço tem trinta e dois anos e nunca morou em Minas, que eu saiba, mas como os versos dele são parecidos com estes que o seu jornal publicou! A mesma doçura, uma sensação de fim de tarde, meio triste, o senhor não imagina… Enganei-me. Desculpe mais uma vez, e passe bem, sr. Silva.
Saiu, levando nas mãos o papelzinho, como uma flor.

— Carlos Drummond de Andrade, no livro "Fala, amendoeira". São Paulo: Companhia das Letras, 2012


Biografia, entrevistas e poemas do poeta Drummond:

Exposição: Sebastião Salgado em Retrospectiva



©Sebastião Salgado

Sebastião Salgado em Retrospectiva
até 3 de setembro de 2016
no A Cor da Casana  Galeria Silvia Cintra , Gávea - Rio de Janeiro RJ.

Sebastião Salgado, um dos maiores nomes da fotografia mundial, na galeria Silvia Cintra. A exposição pretende fazer um apanhado de importantes momentos da obra de Salgado desde os anos 70 até os dias atuais.

O ponto de partida é um conjunto de quatro fotografias feitas na América Latina entre o final dos anos 70 e princípio dos 80. Essa série deu origem ao primeiro livro lançado por Salgado, “Outras Américas”. Seguindo pela década de 80, cinco imagens representam a histórica série que o fotógrafo realizou na “Serra Pelada”, uma serra localizada no Pará que chegou a ser considerada o maior garimpo a céu aberto do mundo e que nesta época viveu uma verdadeira “corrida do ouro”.

Os anos 90 estão representados por três obras, sendo uma delas a maior imagem da exposição e uma das mais reproduzidas na obra de Salgado, uma estação de trem lotada de pessoas na Índia. Finalizando a mostra, 18 imagens da série “Gênesis”, mostram um lado mais lírico da obra de Salgado. Durante oito anos, o fotógrafo percorreu inúmeros locais do planeta em busca de paisagens ainda intocadas pelo homem. O Brasil aparece com força nesta série, que passa pela Amazônia, Pantanal e tribos indígenas no Pará.

Durante as expedições do “Gênesis”, Salgado viveu pela primeira vez a experiência de fotografar animais e estabelecer com eles uma relação de proximidade e muitas vezes de confiança. Jacarés, baleias, pinguins e onças fecham a exposição.


©Sebastião Salgado - Pantanal | Mato Grosso do Sul, 2005

©Sebastião Salgado - 1978

©Sebastião Salgado - 2009

©Sebastião Salgado - Serra Pelada (1986)

SERVIÇO
Exposição: Sebastião Salgado em Retrospectiva
Galeria Silvia Cintra + Box 4
Rua das Acácias, 104, Gávea, Rio de Janeiro
até  3 de setembro de 2016.
De segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábados, das 12h às 18h
Tel.: (21) 2521 0426
Site A cor da Casa
Fonte: A cor da Casa

Perguntas e respostas para um caderno escolar - Clarice Lispector

©Clotilde Perrin

Perguntas e respostas para um caderno escolar 

- Qual é a coisa mais antiga do mundo?
- Poderia dizer que é Deus que sempre existiu.
- Qual é a coisa mais bela?
- O instante de inspiração.
- E Deus quando criou o Universo não o fez no momento de Sua maior inspiração?
- O Universo sempre existiu. O cosmos é Deus.
- Qual das coisas é a maior?
- O amor, que é o maior dos mistérios.
- Das coisas qual é a mais constante?
- O medo. Que pena que eu não possa responder: é a esperança.
- Qual o melhor dos sentimentos?
- O de amar e ao mesmo tempo ser amada, o que parece apenas um lugar-comum mas é uma de minhas verdades.
- Qual é o sentimento mais rápido?
- O sentimento mais rápido, que chega a ser apenas um fulgor, é o instante em que um homem e uma mulher sentem um no outro a promessa de um grande amor.
- Qual é a mais forte das coisas?
- O instinto de ser.
- O que é mais fácil de se fazer?
- Existir, depois que passa o medo.
- Qual a coisa mais difícil de realizar?
- A própria relativa felicidade que vem do conhecimento de si mesmo.
(Depois as perguntas se tornaram mais complicadas.) - Você é tímida como escritora?
- N a hora de escrever não sou tímida. Pelo contrário: entrego-me toda. Como pessoa sou às vezes inibida.
- Como nascem suas histórias? Elas são planejadas antes do ato de escrever?
- Não, vão se desenvolvendo à medida que escrevo, e nascem quase sempre de uma sensação, de uma palavra ouvida, de um nada ainda nebuloso.
- Como é que você se sente durante o ato de escrever? E depois de escrito o livro, você se preocupa com o destino dele?
- Enquanto escrevo o bom é que não dou mostra da grande excitação de que sou às vezes tomada.
E por mais difícil que seja o trabalho, sinto uma felicidade dolorosa pois, com os nervos todos aguçados, fico sem a cobertura de um cotidiano banal. E depois de pronto o livro, de entregue ao editor, posso dizer como Julio Cortázar: retesa o arco ao máximo enquanto escreve e depois o solta de um só golpe e vai beber vinho com os amigos. A flecha já anda pelo ar, e se cravará ou não se cravará no alvo; só os imbecis podem pretender modificar sua trajetória ou correr atrás dela para dar-lhe eumpurrões suplementares com vistas à eternidade e às edições internacionais.
- O que acontece com a pessoa encabulada que você é, enquanto tem a ousadia de escrever?
- Desabrocho em coragem, embora na vida diária continue tímida. Aliás sou tímida em determinados momentos, pois fora destes tenho apenas o recato que também faz parte de mim. Sou uma ousada-encabulada: depois da grande ousadia é que me encabulo.
- Você conhece os seus maiores defeitos?
- Os maiores não conto porque eu mesma me ofendo. Mas posso falar naqueles que mais prejudicam a minha vida. Por exemplo, a grande fome de tudo, de onde decorre uma impaciência insuportável que também me prejudica.
- Você sente e participa dos problemas da vida nacional?
- Como brasileira seria de estranhar se eu não sentisse e não participasse da vida do meu país.
Não escrevo sobre problemas sociais mas eu os vivo intensamente e, já em criança, me abalava inteira com os problemas que via ao vivo.

— Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999


Saiba mais sobre Clarice Lispector:

Entrevista com Machado de Assis - Rubem Braga

Machado de Assis, por Abel Costa

Entrevista com Machado de Assis

São trechos de um programa de televisão em que Machado de Assis é entrevistado 50 anos depois de sua morte. Suas respostas são frases que ele mesmo escreveu em crônicas, contos ou romances.

Repórter — O senhor gostava muito de jogar xadrez com o maestro Artur Napoleão, não é verdade?
Machado — “O xadrez, um jogo delicioso, por Deus! Imaginem da anarquia, onde a rainha come o peão, o peão come o bispo, o bispo come o cavalo, o cavalo come a rainha, e todos comem a todos. Graciosa anarquia...”
— Por falar em comer, é verdade que o senhor era vegetariano?
— “... eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei à idade da razão e organizei o meu código de princípios, incluí nele o vegetarianismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro.”
— Que tal acha o nome da Capital de Minas?
— “Eu, se fosse Minas, mudava-lhe a denominação. Belo Horizonte parece antes uma exclamação que um nome.”
— E a respeito da ingratidão?
— “Não te irrites se te pagarem mal um benefício; antes cair das nuvens que de um terceiro andar.”
— E a imprensa de escândalo?
— “O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.”
— E esses camaradas que estão sempre na oposição?
— “O homem, uma vez criado, desobedeceu logo ao Criador, que aliás lhe dera um paraíso para viver; mas não há paraíso que valha o gosto da oposição.”
— E o trabalho?
— “O trabalho é honesto, mas há outras ocupações pouco menos honestas e muito mais lucrativas.”
— E a herança?
— “Há dessas lutas terríveis na alma de um homem. Não, ninguém sabe o que se passa no interior de um sobrinho, tendo de chorar a morte de um tio e receber-lhe a herança. Oh, contraste maldito! Aparentemente tudo se recomporia, desistindo o sobrinho do dinheiro herdado; ah! mas então seria chorar duas coisas: o tio e o dinheiro.”
— E a loteria?
— “Loteria é mulher, pode acabar cedendo um dia.”
— O senhor já ouviu falar da cantora Leny Eversong?
— “Quando eu era moço e andava pela Europa, ouvi dizer de certa cantora que era um elefante que engolira um rouxinol.”
— E sobre dívidas?
— “Que é pagar uma dívida? É suprimir, sem necessidade urgente, a prova do crédito que um homem merece. Aumentá-la é fazer crescer a prova.”
— Pode me dar uma boa definição do amor?
— “A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada.”
— E as brigas de galos?
— “A briga de galos é o Jockey Club dos pobres.”
— O amor dura muito?
— “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.”
— E a honestidade?
— “Se achares três mil-réis, leva-os à polícia; se achares três contos, leva-os a um banco.”
— E o Brasil?
— “O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco.”
— E o sono?
— “Dormir é um modo interino de morrer.”
— E os filhos?
— “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
— Muito obrigado, o senhor é muito franco em suas respostas.
— “A franqueza é a primeira virtude de um defunto.”
— De qualquer modo, desculpe por havê-lo incomodado. Mas é que neste programa sempre entrevistamos alguém que já morreu...
— “Há tanta coisa gaiata por esse mundo que não vale a pena ir ao outro arrancar de lá os que dormem...”


Rio, outubro, 1958.

— Rubem Braga, no livro “Ai de ti, Copacabana”. Rio de Janeiro: Record, 2010.



Saiba mais sobre o autor:

Anne Morrow Lindbergh - poemas



R. Magritte - favorable omens - 1944
poemas de anne morrow lindbergh

ÁRVORE NUA
Despiram-me das folhas de minha juventude,
levadas pelo vento do tempo, deixando-me
como aos galhos no inverno. Permaneço,
ereta e solitária, a testemunhar outras vidas,
emoldurando outro brilho,
harpa a tocar uma paixão que não é minha.

Minha ramagem, um leque aberto
ao céu, novamente trará
os mistérios desfolhados que tanto amei,
com raízes e ramos igualmente nus,
os galhos que sorvem a chuva ou balançam ao sol
são os mesmos; a sombra e a essência são uma.
Agora que já perdi as folhas tão frágeis,
não há nada mais a cobrir, nada mais a ocultar.

Vida, sopra por mim agora, finalmente despida,
pois me tornei tão frágil e tão destemida!
.

BARE TREE
Already I have shed the leaves of youth,
Stripped by the wind of time down to the truth
Of winter branches. Linear and alone
I stand, a lens for lives beyond my own,
A frame through which another’s fire may glow,
A harp on which another’s passion, blow.

The pattern of my boughs, an open chart
Spread on the sky, to others may impart
Its leafless mysteries that once I prized,
Before bare roots and branches equalized;
Tendrils that tap the rain or twigs the sun
Are all the same; shadow and substance one.
Now that my vulnerable leaves are cast aside,
There’s nothing left to shield, nothing to hide.

Blow through me, Life, pared down at last to bone,
So fragile and so fearless have I grown!
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

CONCHA PARTIDA
Não procures mais a concha perfeita, a forma
inteira e inviolada, que não trincou sob os dentes do tempo;
a armadura de alabastro ainda intocada
pela ação erosiva das areias e das ondas que rolam na praia.

Que outra beleza poderíamos resgatar do mar inconstante
do que estes pequenos esqueletos que se espalham
como flores dispersas sob o céu,
ainda intactas em sua renúncia de vida?

Eis a manhã da criação
retida em seu pequeno lábio, concavidade vazia, destemida;
sua moldura vazada persiste, como um testamento,
em fragmentos, de seu primeiro movimento terreno.

Veja a espiral que mostra as nervuras
de seu crescimento. Erguida como uma bússola em seu arco,
balança-se eternamente no absoluto,
cantando a beleza como uma flauta de prata.
.

BROKEN SHELL
Cease searching for the perfect shell, the whole
Inviolate form no tooth of time has cracked;
The alabaster armor still intact
From sand’s erosion and the breaker’s roll.

What can we salvage from the ocean’s strife
More lovely than these skeleton that lie
Like scattered flowers open to the sky,
Yet not despoiled by their consent to life?

The pattern on creation morning laid,
By softened lip and hollow, unbetrayed;
The gutted frame endures, a testament,
Even in fragment, to that first intent.

Look at this spiral, stripped to polished nerve
Of growth. Erect as compass in its curve,
It swings forever to the absolute,
Crying out beauty like a silver flute.
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

ATÉ MESMO
Aquele que amo, desejo que seja
livre:

Livre como um ramo despido
no alto de uma árvore,
alheio à luta entre os galhos
que se agitam em busca da luz.
Livre da escura mortalha,
onde tombam as sombras –
voltado para o olho dourado
do céu.

Livre como a gaivota,
sozinha num sopro de ar,
invisível,
onde
ninguém poderá tocá-la,
nenhuma voz alcançá-la,
ninguém vir
surpreendê-la.

Livre como uma folha
de grama,
em meio ao verde,
anônima,
entre inúmeras iguais,
que se espicham, se alinham,
recobrindo a terra,
felizes,
apontando o azul,
repartindo o sol,
envoltas,
ainda, uma a uma,
em frescas gotas
de orvalho.

Aquele que amo, desejo que seja
livre –
até mesmo de mim.
.

EVEN
Him that I love I wish to be
Free:

Free as the bare top twigs of tree,
Pushed up out of the fight
Of branches, struggling for the light,
Clear of the darkening pall,
Where shadows fall –
Open to the golden eye
Of sky;

Free as a gull
Alone upon a single shaft of air,
Invisible there,
Where
No man can touch,
No shout can reach,
Meet
No stare;

Free as a spear
Of grass,
Lost in the green
Anonymity
Of a thousand seen
Piercing, row on row,
The crust of earth,
With mirth,
Through to the blue,
Sharing the sun
Although
Circled, each one,
In his cool sphere
Of dew.

Him that I love, I wish to be
Free –
Even from me.
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

ÓBOLOS
Como aos pássaros no inverno,
tu me alimentaste;
sabendo que a terra estava gelada,
sabendo que
eu jamais viria comer na tua mão,
sabendo que
não precisavas da minha gratidão.

Suavemente,
como caem os flocos de neve,
suavemente, para eu não me assustar,
suavemente,
atiraste as migalhas no chão –
e te afastaste.
.

ALMS
Like birds in winter
You fed me;
Knowing the ground was frozen,
Knowing
I should never come to your hand,
Knowing
You did not need my gratitude.

Softly,
Like snow falling on snow,
Softly, so not to frighten me,
Softly,
Your threw your crumbs upon the ground –
And walked away.
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

PRESSENTIMENTO
Imóvel como árvore no outono,
onde não bate o vento, onde não há 
sopro ou movimento e, mesmo assim,
no alto, num galho,
por nenhuma razão aparente,
uma única folha oscila
violentamente.

Para que melodia
ela dança?
Que nota perdida vibra
em mim?
Do passado ou do futuro?
Memória
ou Pressentimento?
.

PRESENTIMENT
I am still as an autumn tree
In which there is no wind,
No breath of movement – yet
There on a top branch,
For no cause I can see,
A single leaf oscillates
Violently.

To what thin melody
Does it dance?
What lost note vibrates
In me?
From the past or the future?
Memory
Or Presentiment?
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

O HOMEM E A CRIANÇA
É o homem em nós que trabalha,
que todos os dias ganha seu pão e, ansioso, à noite,
indaga aos céus o que o futuro lhe reserva,
é o homem que corre ao caminhar,
se inflama na multidão, e grita ao falar,
que cerra os olhos e se enterra em seu trabalho,
que duvida dos outros e veste uma máscara,
enverga uma armadura e esconde suas lágrimas.
É o homem em nós que tem medo.

É a criança em nós que brinca,
que todo dia encontra uma felicidade maior,
canta por cantar, é curiosa e chora,
é a criança em nós que, à noite, dorme.
É a criança que, silenciosa, nos olha,
aberta e sem disfarces, inocente,
simples e verdadeira, e não finge
ao ver a beleza em outro rosto –

é a criança em nós que ama.
.

THE MAN AND THE CHILD
It is the man is us who works;
Who earns his daily bread and anxious scans
The evening skies to know tomorrow’s plans;
It is the man who hurries as he walks;
Finds courage in a crowd; shouts as he talks;
Who shuts his eyes and burrows through his task;
Who doubts his neighbor and who wears a mask;
Who moves in armor and who hides his tears.
It is the man is us who fears.

It is the child in us who plays;
Who sees no happiness beyond today’s;
Who sings for joy; who wonders, and who weeps;
It is the child in us at night who sleeps.
It is the child who silent turns his face,
Open and maskless, naked of defense,
Simple with trust, distilled of all pretense,
To sudden beauty in another’s face –

It is the child in us who loves.
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

DENTRO DA ONDA
Dentro do arco da onda há um mundo,
luzindo seu brilho de vidro perfeito, que se levanta
e desmancha em milhares de partículas na areia,
lançada pela inexorável maré.
Agora, neste instante, em que a catástrofe é certa,
percebo, de súbito, uma terra mais bela que a nossa,
outro céu, com azul mais intenso,
onde brilham sóis que nunca se põem, outro mar,
sem horizonte a cercá-lo; outra praia,
refletindo o brilho de conchas jamais vistas.
espelho suave do presente, suspenso 
entre a crista “que se ergue” e a espuma “que passou” –
como é luminosa a paisagem que vejo através
das lentes de cristal desta iminente perda!
.

WITHIN THE WAVE
Within the hollow wave there lies a world,
Gleaming glass-perfect, rising to be hurled
Into a thousand fragments on the sand,
Driven by tide’s inexorable hand.
Now in the instant while disaster towers,
I glimpse a land more beautiful than ours;
Another sky, more lapis-lazuli,
Lit by unsetting suns; another sea
By no horizon bound; another shore,
Glistening with shells I never saw before.
Smooth mirror of the present, poised between
The crest’s “becoming” and the foam’s “has been” –
How luminous the landscape seen across
The crystal lens of an impending loss!
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§
Anne Morrow Lindbergh, Chicago, 1929

O UNICÓRNIO CATIVO
 A partir de uma tapeçaria dos Cloisters

Eis o Unicórnio
cativo;
sua intocável vulnerabilidade
finalmente aprisionada;
há muito aconteceu
a longa caçada
dos cavaleiros do rei;
agora seus arreios estão atados
à romãzeira –
aqui está o Unicórnio
cativo,
porém,
livre.

Eis o Unicórnio;
sua valentia
contida por um pequeno círculo,
como o abraço de uma mulher;
em uma grade circular;
preso
por uma cerca escarlate,
tão frágil quanto a coroa de um rei,
que delicadamente retém
seu chifre, as patas e a crina,
como uma rede suavemente
prende uma borboleta.

Poderia pular a cerca,
se ele se erguesse,
estendendo seu branco dorso;
poderia facilmente parti-la,
com três golpes
de seus cascos de porcelana e fugir –
se ele quisesse.
Romperia os muros da prisão
e escaparia –
se ele saltasse,
se ele quisesse.

Eis o Unicórnio;
em seu flanco,
ainda sangram as feridas
das lanças dos caçadores,
embora não estanque
as lágrimas de sangue
que brotam
da branca penugem,
como flores
sobre o chão de veludo,
onde ele se deita.
Amarras e feridas de sonho
não conseguem prendê-lo
a este reino, onde nem
suas feridas, nem seu destino
importam.

Eis o Unicórnio;
a cabeça presa por um colar,
como um laço
em torno da cintura de uma mulher,
largo e bordado,
amarrado sem cuidado.
Poderia se soltar
da coleira cravejada de joias,
por ser tão largo o colar –
se ele tentasse;
como uma mulher desfaria
um laço preso à sua cintura,
e ele romperia as amarras
tão descuidadas –
se ele tentasse.

Eis o Unicórnio;
preso por uma corrente de ouro
à romãzeira.
Uma corrente tão frágil para deter
tão poderosa fera;
tão delicada quanto um crucifixo
sobre o colo de uma mulher.
Com um meneio,
poderia romper a corrente de ouro,
se ele quisesse se mover,
se ele quisesse sentir
a liberdade.
Mas prefere não fazer
essa escolha.
Aqui está o Unicórnio,
cativo.

Cativo, com seu
dorso, cascos e crina –
mas olhe novamente –
o chifre está livre,
alto, acima
da corrente, da cerca e da árvore,
como um canto livre de amor;
o chifre
emerge de sua fronte tranquila,
como uma estrela cadente;
emerge como uma proa de navio
cortando o mar tranquilo;
eleva-se como um lírio branco
acima da terra;
uma espiral, um voo de pássaro
alçando tão ansiadas alturas;
ou uma nascente
jorrando sob a luz
da manhã –
Ó luminoso chifre!

Eis o Unicórnio –
cativo?
Descansando.
Ele esqueceu os golpes
das lanças
dos caçadores; e os terríveis latidos
dos cães de caça,
em sua sede de sangue;
a força que corre
por suas veias atende
à ânsia de luta,
da fúria pela vida,
nos cascos pesados,
no chifre que respira.
esqueceu a luta;
agora a ânsia de matar
extinguiu-se como fogo,
e a ânsia de amar
tomou o lugar do desejo;
esqueceu a dor
das feridas, da cerca, da corrente –
senta-se, imóvel,
à espera de Tua vontade.

O Unicórnio está imóvel,
contemplando,
resignado;
impassível, menos o seu chifre;
o chifre continua vivo;
horizontalmente,
preso;
perpendicularmente,
livre.

Como prisioneiro
que à noite contempla o céu
e desdenha da prisão imposta
por grades e muros,
ao observar a liberdade
da noite estrelada,
e encontrar ali a sua felicidade:
então, o unicórnio
está livre.
O que é liberdade?
Aqui vive o Unicórnio,
cativo:
porém livre.
.

THE UNICORN IN CAPTIVITY
After the tapestry in The Cloisters

Here sits the Unicorn
In captivity;
His bright invulnerability
Captive at last;
The chase long past,
Winded and spent,
By the king’s spears rent;
Collared and tied
To a pomegranate tree –
Here sits the Unicorn
In captivity,
Yet free.

Here sits the Unicorn;
His overtakelessness
Bound by a circle small
As a maid’s embrace;
Ringed by a round corral;
Pinioned in place
By a fence of scarlet rail,
Fragile as a king’s crown,
Delicately laid down
Over horn, hoofs, and tail,
As a butterfly net
Is lightly set.

He could leap the corral,
If he rose
To his full white height;
He could splinter the fencing light,
With three blows
Of his porcelain hoofs in flight –
If he chose.
He could shatter his prison wall,
Could escape them all –
If he rose,
If he chose.

Her sits the Unicorn;
The wounds in his side
Still bleed
From the huntsmen’s spears,
Yet he takes no heed
Of the blood-red tears
On his milk-white hide,
That spring unsealed,
Like flowers that rise
From the velvet field
In which he lies.
Dream wounds, dream ties,
Do not bind him there
In a kingdom where
He is unaware
Of his wounds, of his snare.

Here sits the Unicorn;
Head in a collar cased,
Like a girdle laced
Round a maiden’s waist,
Broidered and buckled wide,
Carelessly tied.
He could slip his head
From the jeweled noose
So lightly tied –
If he tried,
As a maid could loose
The belt from her side;
He could slip the bond
So lightly tied –
If he tried.

Here sits the Unicorn;
Leashed by a chain of gold
To the pomegranate tree.
So light a chain to hold
So fierce a beast;
Delicate as a cross at rest
On a maiden’s breast.
He could snap the golden chain
With one toss of his mane,
If he chose to move,
If he chose to prove
His liberty.
But he does not choose
What choice would lose.
He stays, the Unicorn,
In captivity.

In captivity,
Flank, hoofs, and mane –
Yet look again –
His horn is free,
Rising above
Chain, fence, and tree,
Free hymn of love;
His horn
Bursts from his tranquil brow,
Like a comet born;
Cleaves like a galley’s prow
Into seas untorn;
Springs like a lily, white
From the earth below;
Spirals, a bird in flight
To a longed-for height;
Or a fountain bright,
Spurting to light
Of early morn –
O luminous horn!

Here sits the Unicorn –
In captivity?
In repose.
Forgotten now the blows
When the huntsmen rose
With their spears; dread sounds
Of the baying hounds,
With their cry for blood;
And the answering flood
In his veins for strife,
Of his rage for like,
In hoofs that plunged,
In horn that lunged.
Forgotten the strife;
Now the need to kill
Has died like fire,
And the need to love
Has replaced desire;
Forgotten now the pain
Of the wounds, the fence, the chain –
Where he sits so still,
Where he waits Thy will.

Quiet, the Unicorn,
In contemplation stilled,
With acceptance filled;
Quiet, save for his horn;
Alive in his horn;
Horizontally,
In captivity;
Perpendicularly,
Free.

As prisoners might,
Looking on high at night,
From day-close discipline
Of walls and bars,
Tonight-free infinity
Of sky and stars,
Find here felicity:
So is he free –
The Unicorn.
What is liberty?
Here lives the Unicorn,
In captivity,
Free.
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

REVISITAÇÃO
Já morreste há alguns meses; a mente diurna
anotou no calendário o dia
da tua morte e transferiu-a
para seus sonhos – o sombrio lago,
onde todos os fatos refletem-se invertidos
e distorcidos, porém ainda mais vívidos que à luz do dia –
não estás mais presente neste mundo;
nem aqui, nem ali, tampouco retornarás
de tua viagem. Não viajaste,
mas foste embora “para sempre”.
      Mesmo sabendo
que a tristeza já passou e que a vida
segue seu curso – mesmo assim,
preciso fazer uma peregrinação
aos lugares que foram teus
ou intimamente entrevistos pelo teu olhar;
não na esperança de te reencontrar,
não em tua memória,
nem sofrendo a dor de ter-te perdido.

Não, preciso
voltar aos lugares onde puseste a mão,
revê-los agora sem ti, vazios, despidos,
sem a tua presença. Preciso estar ali
sozinha e olhar esses lugares vazios,
para encontrar a verdade que desconheço;
e equilibrar as incomparáveis asas
de tua existência, a tua e a minha; e guardar nos olhos
as paisagens oscilantes do coração, onde
caminho como uma estranha através do tempo e do espaço.

Preciso voltar,
e esperar em cada um desses lugares conhecidos, até
novamente ver tua carne enregelar,
o espírito deixar teu corpo;
e deixar-te partir e, ainda assim, continuar a amar a paisagem;
porém agora apenas por ela mesma,
como tu a amaste, quando, ainda vivo,
caminhaste por ela pela primeira vez, sem memórias,
e amaste intensamente esta paisagem.
Porque preciso encontrar e reconciliar-me
com a verdade daquilo que se foi e aceitar o novo;
o passado e o futuro; a morte e a vida. E, quando,
finalmente, os opostos se encontrarem,
as asas se equilibrarem e as paisagens se redefinirem,
os fios do passado e do futuro se entrelaçarem,
tecendo um linho forte, gasto e usado pelo tempo –
o presente – então,
poderei reencontrar a mim,
e, também, a ti.
.

REVISITATION
You have been dead for months; the daylight mind
Has noted in its record the exact
Moment of dying, has transferred the fact
To its dream-counterpart – the shadowy pool
Where all events are mirrored upside down,
Distorted but more vivid than by day –
That nowhere on this earth can you be found;
No here, not there, nor on a journey bound
From which you’ll soon be back. No just away,
But gone “for good”, you are.
   Even though I know,
And grief is past and life goes on – even so,
Still I must make a faithful pilgrimage
To those particular landmarks that were yours,
Or intimately haunted by your sight;
Not in the hope of finding you again,
Not in obeisance to your memory,
Nor self-indulgently in search of pain.

No, I must go
Back to the places where you put your hand,
To see them now without you, gutted, bare,
Swept hollow of your presence. I must stand
Alone and in their empty faces stare,
To find another truth I do not know;
To balance those unequal shifted planes
Of our existence, yours and mine; to fix
The whirling landscapes of the heart in which
I walk a stranger both to space and time.

I must go back;
In each familiar corner wait until
I witness once again the flesh turn cold,
The spirit parting from the body’s hold;
And let it go, and love the landscape still;
But now on only for itself alone,
As you once loved it when, in flesh and bone,
You walked it first, naked of memories,
And sharp with life, you loved its flesh and bone.
For I must meet and marry in myself
The truth of what has ended, what is new;
The past and future; death and life. And when
At last the two conflicting pairs are met;
The planes are balanced and the landscapes set;
The strands of past and future tied in one
Tough, weather-beaten, salted twist of hemp,
The present – Then
I shall be able to refind myself,
And also, you.
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

ESPAÇO
Precisamos de espaço para a beleza e seu significado,
e como hoje não há mais espaço
para agir e falar, o rosto
da beleza não se mostra mais tão belo.

A árvore se destaca ao se erguer sozinha
contra a amplidão do céu,
uma vela, uma pequena mancha branca no mar aberto,
recoloca o horizonte em seu lugar.

Em meio à escuridão, a luz da vela
cria espaço à sua volta, enquanto queima,
dando forma, contorno e nome ao quarto,
neste momento nasce o seu significado.

Uma palavra rompe o silêncio como a estrela cadente,
traçando seu voo belo e solitário
contra a imensidão do céu,
contra o insondável silêncio da noite.
.

SPACE
For beauty, for significance, it’s space
We need; and since we have no space today
In which to frame the act, the word, the face
Of beauty, it’s no longer beautiful.

A tree’s significant when it’s alone,
Standing against the sky’s wide open face;
A sail, spark-white upon the space of sea,
Can pin a whole horizon into place.

Encompassed by the dark, a candle flowers,
Creating space around it as it towers,
Giving the room a shape, a form, a name;
Significance is born within the frame.

A word falls in the silence like a star,
Searing the empty heavens with the scar
Of beautiful and solitary flight
Against the dark and speechless space of night.
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

REVOADA
Observando o contorno dos pássaros em revoada,
seguindo como uma pauta de música, brancos
como pétalas que caem, encontro um breve refúgio.
então, de repente, minha vida assume uma nova forma
e compreendo a menosprezada arte
de ler as palmas das mãos ou as folhas em uma xícara de chá;
lembro-me dos sábios sondando os céus,
percebendo presságios no voo dos pássaros,
e vendo o futuro em linhas ocultas pelas nuvens.

Não é o destino que lemos nesses sinais;
vemos apenas – e, tão somente, a nós mesmos,
transmutados em pássaros, nuvens e árvores,
fragmentos familiares, rearranjados de outro modo;
como num caleidoscópio pequenos pedaços de vidro
colorido se transformam em flor.

Um ato da criação em que, na pedra,
o escultor e o esculpido são um –
aqui, onde arte e artista coincidem,
onde o universo e o mundo interior se fundem,
a mágica da Mandala e do Rorschach se unem;
e mais uma vez a memória da infância faz-nos lembrar:
Ganha a vida quem a perde – Milagre,
o coração renascido em uma revoada de pássaros,
agora pode aceitá-lo e reconhecê-lo em palavras.
.

FLIGHT OF BIRDS
Watching the patterns of these birds in flight,
Fluid as music on a page and white
As falling petals, I find swift escape.
Then all at once my life take sudden shape,
And I can understand the misprized art
Of reading palms or tea leaves in a cup;
Remember wise men searching in the skies,
Looking for omens in the track of birds,
Telling the future in cloud-darkened lines.

It is no fate in these external signs
We read; it is ourselves – ourselves we see,
Transmuted into bird or cloud or tree,
Familiar fragments, here arranged in form;
As a kaleidoscope contains the power
From common specks and straws to make a flower.

Act of creation in which the stone,
The sculptor, and the spectator, are one –
Here, where the art and artist coincide,
Where universe and private world collide,
Magic of Mandala and Rorschach meet;
And childhood memories again repeat
Who loses life shall gain it – Miracle
The heart reborn upon a flight of birds
Can now accept and recognize in words.
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§
Charles A. Lindbergh e Anne Morrow Lindberg

SEGURANÇA
Encontramos refúgio numa concha –
ou numa estrela;
mas entre as duas,
não há.

Encontramos paz na imensidão –
ou nas pequenas coisas;
mas entre as duas,
não há.

O planeta nos céus,
a concha na areia:
e embora os céus e a terra
      estejam entre eles,
não encontramos paz
em nenhum outro lugar.

Tu que procuras
um refúgio, aprende
com as mulheres que sempre souberam
os caminhos seguros da vida.
o caminho
seguro de uma agulha – ou de uma estrela;
uma próxima – outra distante.
A que poderíamos comparar
a luz refletida num dedal,
senão ao alto brilho
de Arturo?

Uma próxima – outra distante:
mas entre as duas,
onde
encontrar conforto?

Encontramos refúgio numa concha –
ou em uma estrela:
mas, entre as duas,
em lugar nenhum.
.

SECURITY
There is refuge in a sea-shell –
Or a star;
But in between,
Nowhere.

There is peace in the immense –
Or the small;
Between the two,
Not at all.

The planet in the sky,
The sea-shell on the ground:
And though all heaven and earth
      between them lie,
No peace is to be found
Elsewhere.

Oh you who turn
For refuge, learn
From women, who have always known
The only roads that life has shown
To be secure.
How sure
The path a needle follows – or a star;
The near – the far.
With what compare
The light reflected from a thimble’s stare,
Unless, on high,
Arcturus’s eye?

The near – the far:
But in between,
Oh where
Is comfort to be seen?

There is refuge in a sea-shell –
Or a star;
But in between,
Nowhere.
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

§

A PEDRA
Há um sofrimento que a mente
nunca percebe nem consegue entender,
como uma pedra, interrompendo o fluxo da minha alegria,
sob a superfície, despercebida,
coberta por um jorro de palavras,
cortando meu caminho e me impedindo de passar,
mesmo contra minha inabalável vontade e que resiste
ao bisturi afiado da minha análise.
Embora imune às lágrimas e opaca à luz,
atiro-me contra ele, murmurando minhas preces.
Nem a beleza pode encobrir ou a música dissolver
dor tão voraz e desconhecida.

Nem o sono dissolve as lanças de pedra
que se erguem nas cavernas inconscientes da noite.

Não há outro diluente senão o amor. De quem? O meu?
Pode-se pedir amar o terrível desconhecido?
Não sou como Francisco que beijaria a boca
dos leprosos. Presa entre as garras
de um mundo sem fé, eu, que mal sei rezar,
deveria amar? Haveria outro caminho?

Num sofrimento sem nome, nem língua, nem face,
cegamente te estreito num desesperado abraço!
.

THE STONE
There is a core of suffering that the mind
Can never penetrate or even find;
A stone that clogs the stream of my delight,
Hidden beneath the surface out of sight,
Below the flow of words it lies concealed.
It blocks my passage and it will not yield
To hammer blows of will, and still resists
The surgeon’s scalpel of analysis.
Too hard for tears and too opaque for light,
Bright shafts of prayer splinter against its might.
Beauty cannot disguise nor music melt
A pain undiagnosable but felt.

No sleep dissolves that stony stalagmite
Mounting within the unconscious caves of night.

No solvent left but love. Whose love? My own?
And is one asked to love the harsh unknown?
I am no Francis who could kiss the lip
Of alien leper. Caught within the grip
Of world un-faith, I cannot even pray,
And must I love? Is there no other way?

Suffering without name or tongue or face,
Blindly I crush you in my dark embrace!
Anne Morrow Lindbergh, no livro "O Unicórnio e outros poemas" (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.

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Breve biografia
Anne Morrow Lindbergh
Anne Morrow Lindbergh (1906-2001) foi uma aclamada escritora de ficção, poesia e não ficção. Primeira norte-americana a obter brevê de piloto de planador. Em 1938 foi vencedora do Prêmio National Book, com o romance Listen the Wind, baseado em suas aventuras.
Após seu casamento com o aviador Charles Lindbergh, em 1929, Anne Morrow Lindbergh o acompanhou nos primeiros voos sobre o Atlântico Norte para o lançamento das primeiras linhas aéreas transoceânicas. A trágica morte de seu primeiro filho e o consequente processo criminal forçou-os a mudar para a Europa em busca de segurança e privacidade. A guerra, no entanto, fez com que voltassem aos Estados Unidos, fixando-se definitivamente na costa de Connecticut, onde viveram de modo reservado, escrevendo, e criando seus cinco filhos. Depois que estes cresceram e saíram de casa, Anne e Charles Lindbergh fizeram longas viagens à África e ao Oceano Pacífico em pesquisas ambientais. Moraram por vários anos na ilha de Maui, no Havaí, onde Charles faleceu, em 1974. Anne voltou a viver em Connecticut, onde recebia filhos e netos, e depois foi para a casa de sua filha Reeve, em Vermont, onde morou seus últimos anos de vida, morrendo em 7 de fevereiro de 2001, aos 95 anos.
:: Fonte: Editora Sextante | e 'O Unicórnio e outros poemas'.
Outras fontes: Lindbergh Foundation

Charles and Anne Morrow Lindbergh

Charles e Anne Morrow Lindbergh

John F. Kennedy, Anne e Charles Morrow Lindbergh - maio de 1962

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