Tela: © Berthe Morisot |
O teu aniversário
Pediste-me sorrindo, ó minha flor gentil,
Uns versos às tuas vinte alvoradas de Abril.
Vinte anos já!... não creio, estás equivocada...
Enganas-te. Eu irei perguntar à alvorada
Quantas vezes pousou em êxtase, ao de leve,
A sua boca de rosa em tua fronte de neve.
Vinte anos! Podes crer, pomba que eu idolatro,
Que se o corpo fez vinte, a alma, não: fez quatro.
A tua alma nasceu inefável, divina,
Para ser sempre grande e sempre pequenina.
É como a estrela d’alva: enche o seu esplendor
O mundo, e ela não enche o cálix duma flor!...
1882.
- Guerra Junqueiro, no livro "Poesias dispersas". Projecto Adamastor, 2014.
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