Jean-Pierre Lemaire - poemas

Encontro, de Damião Martins
poema de jean-pierre lemaire (edição bilíngue)


A virgem das rosas
(Colmar)

Estas aí, Maria, com o manto vermelho,
majestosa, amável, vigiando de um lado
e teu filho do outro.
À volta, rosas
sem espinhos, como no jardim do Éden,
e esses pássaros, pintarroxos, canários,
rouxinóis, talvez, de ar estranho :
pássaros pintados que não podem cantar.
Como eles, eu te olho,
aprendo a me calar,
em penitência no Paraíso.
.

de 'figure humaine'

La Vierge au buisson de roses
(Colmar)

Vous êtes là, Marie, en manteau rouge,
majestueuse, aimable, veillant d’un côté
et votre fils de l’autre.
Autour de vous, des rosess
ans épines, comme au jardin d’Éden,
et ces oiseaux, rouges-gorges, mésanges,
rossignols, peut-être, à l’air étrange :
des oiseaux peints qui ne peuvent chanter. 
Comme eux, je vous regarde,
j’apprends à me taire, 
en pénitence au Paradis.
- Jean-Pierre Lemaire. "Poemas". [seleção e tradução de Júlio Castañon Guimarães]. São Paulo: Lumme Editor, 2010.

§

O sol da ilha de Poros
O quarto do sol
o quarto dos enamorados azuis
o quarto das flores
o quarto da noite dos tempos
Todos se comunicam
na memória da felicidade
que conserva suas cores puras
sem paredes entre as horas
.

Le soleil de Poros
La chambre du soleil
la chambre des amants bleus
la chambre des fleurs
la chambre de la nuit des temps
Toutes communiquent
dans la mémoire du bonheur
qui garde leurs couleurs pures
sans mur entre les heures
- Jean-Pierre Lemaire. "Poemas". [seleção e tradução de Júlio Castañon Guimarães]. São Paulo: Lumme Editor, 2010.

§

O papagaio
O antigo papagaio perdido no invisível
subiu demais por certo. E tentas no teu sonho
fazer que ele desça com todo cuidado
verso após verso, enrolando a linha
impalpável em torno ao coração
como se recolhê-lo a alcance da palavra
dizer suas cores, amarelo e azul passados
fosse voltares tu mesmo para terra
.

Le cerf-volant
L’ancien cerf-volant perdu dans l’invisible
a dû monter trop haut. Tu tentes en rêve
de le faire descendre avec précaution
vers après vers, enroulant le fil
impalpable autour du cœur
comme si l’amener à portée de parole
en dire les couleurs, jaune et bleu passées
c’était revenir toi-même sur la terre.
- Jean-Pierre Lemaire, em "Poetas de França hoje. 1945-1995". [organização e tradução Mário Laranjeira]. São Paulo: Edusp, 1996.

§

Quando te é dado ver a vida
já não apenas sob o céu
mas como através dele
(adivinhas então a existência
de um segundo céu em transparência
e até por vezes de um terceiro)
podes suportar o grito do choupo
o olhar dos ofendidos
e tua própria história
como se a memória nessa profundeza
tomasse a cor da misericórdia
tal como o ar se torna azul…
.

Quand il t’est donné de voir cette vie
non plus seulement sous le ciel
mais comme à travers lui
(tu devines alors l’existence
d’un second ciel en transparence
et même parfois d’un troisième)
tu peux supporter le cri du peuplier
les yeux des offensés et ta propre histoire
comme si la mémoire à cette profondeur
prenait la couleur de la miséricorde
de même que l’air devient bleu…
- Jean-Pierre Lemaire, em "Poetas de França hoje. 1945-1995". [organização e tradução Mário Laranjeira]. São Paulo: Edusp, 1996.

§

BREVE BIOGRAFIA
Jean-Pierre Lemaire nascido em 1948, na cidade de sallaches, o poeta jean-pierre lemaire (que hoje leciona letras no khâgne, uma espécie de pré-vestibular francês) ainda é um ilustre desconhecido no brasil. sua poesia – pouca em quantidade – tem sido bastante valorizada na frança nos últimos anos. seus 9 livros de poesia são: les marges du jour (1981), l’exode et la nué (1982), visitation (1985), le coeur circoncis (1989), le chemin du cap (1993), l’annonciade (1997), l’intérieur du monde (2002), figure humaine (2008) & faire place (2013).

:: Fonte: escamandro

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