Friedrich Nietzsche - poemas

Theo van Rysselberghe - yellow bouquet - 1917
poemas de friedrich nietzsche


ECCHE HOMO
Sim! Eu sei que me resume:
Insaciado como o lume,
Eu brilho e ardo-me inteiro.
Luz se torna quanto eu faço,
Cinza tudo após que eu passo -
O Fogo sou verdadeiro!
- Friedrich Nietzsche, em "Poesia de 26 séculos: De 'Arquíloco a Nietzsche'". [antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena]. Colecção 'Antologias Universais', 1. Porto: ASA, 2001.

***

VENEZA
Na ponte eu estava
Ao moreno anoitecer.
Distante veio um canto:
Douradas gotas corriam
Pela tremente planura.
Gôndolas, luzes, música -
Ébrias vogavam para o crepúsculo...

A minh'alma, uma lira,
Cantava-se, invisivelmente vibrada,
Oculta canção de gondoleiro,
Tremente de irisada beatitude -
Mas alguém ouvia?
.

VENEDIG
An der Brücke stand
jüngst ich in brauner Nacht.
Fernher kam Gesang:
goldener Tropfen quoll's
über die zitternde Fläche weg.
Gondeln, Lichter, Musik -
trunken schwamm's in die Dämmrung hinaus
...
Meine Seele, ein Saitenspiel,
sang sich, unsichtbar berührt,
heimlich ein Gondellied dazu,
zitternd vor bunter Seligkeit.
- Hörte jemand ihr zu? ...
- Friedrich Nietzsche, em "Poesia de 26 séculos: De 'Arquíloco a Nietzsche'". [antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena]. Colecção 'Antologias Universais', 1. Porto: ASA, 2001.

***

OS MAUS
Temeis-me?
Temeis o arco tenso?
Ah, quem pudesse assim dispor a flecha!

Ah, meus amigos!
Onde quem bom era dito?

Onde estão todos os "bons"?
Onde, onde, a inocência das mentiras?

Quem uma vez olha o Homem
A Deus vê como Bode.

O poeta capaz de mentir
Conscientemente, voluntariamente,
Só ele é capaz de dizer a Verdade.

"O Homem é mau",
O que os Mais Sábios disseram -
Para consolar-me.
- Friedrich Nietzsche, em "Poesia de 26 séculos: De 'Arquíloco a Nietzsche'". [antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena]. Colecção 'Antologias Universais', 1. Porto: ASA, 2001.

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ATENÇÃO: VENENO!
Que não me leia mais quem não se ri aqui!
Porque o diabo leva quem aqui não ri.
- Friedrich Nietzsche, em "Poesia de 26 séculos: De 'Arquíloco a Nietzsche'". [antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena]. Colecção 'Antologias Universais', 1. Porto: ASA, 2001.

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O CANTO E O PENSAMENTO
Ao Princípio era o Ritmo, a Rima a terminar,
E a Música entra nisto qual seu almo Pio:
A tão divino riquiquio
Chama-se Canto. Mas, para encurtar,
Um Canto, isso é "Palavras para pôr em Música".

O Pensamento é de uma outra esfera.
Se ele troça, ou se exalta, ou se encanta,
Jamais, é claro, um pensamento canta.
É "Sentido sem Canto" o Pensamento.
As duas coisas juntas: minha audácia é tanta?
- Friedrich Nietzsche, em "Poesia de 26 séculos: De 'Arquíloco a Nietzsche'". [antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena]. Colecção 'Antologias Universais', 1. Porto: ASA, 2001.

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SILS-MARIA
Aqui sentado à espera, sim - de nada,
E além do Mal e do Bem, alma dada

Ora à luz, ora à treva, só brincando,
Ou mar, ou meio dia, ou tempo passando -

De súbito o Uno e o Dois se bipartiu -
E Zaratustra diante de mim surgiu.
- Friedrich Nietzsche, em "Poesia de 26 séculos: De 'Arquíloco a Nietzsche'". [antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena]. Colecção 'Antologias Universais', 1. Porto: ASA, 2001.

***

A MINHA FELICIDADE
Depois que me cansei de procurar,
A descobrir aprendi.
Depois que o vento me foi contrário,
Navego com todo o vento.
- Friedrich Nietzsche, em "Poesia de 26 séculos: De 'Arquíloco a Nietzsche'". [antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena]. 2ª ed., Coimbra: Fora do Texto, 1993.

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Friedrich Nietzsche (1844-1900)

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