Baltazar del Alcázar - poemas



Emil Nolde - Rose-rosse e gialle -1907
 poemas de baltasar del alcázar (edição bilíngue)

A esperança vã
Se prá vossa vontade sou cera,
como aceitar que não me desvaria
serdes pra mim de pedra dura e fria?
De uma injustiça tal, que bem se espera?
     
Lei é de amor querer a quem nos queira,
e detestá-lo, lei de tirania:
mísera foi, senhora, a ousadia
que vos fez decretar lei tão severa.
     
Vossos, tenho riquíssimos despojos,
à força de meus braços granjeados,
pois vós jamais render-vos pretendestes;

e já que o amor e esses divinos olhos
de tal delito foram os culpados,
aboli a injusta lei que estabelecestes.
.

A la esperanza vana
Si a vuestra voluntad yo soy de cera,
¿cómo se compadece que a la mía
vengáis a ser de piedra dura y fría?
De tal desigualdad, ¿qué bien se espera?

Ley es de amor querer a quien os quiera,
y aborrecerle, ley de tiranía:
mísera fue, señora, la osadía
que os hizo establecer ley tan severa.

Vuestros tengo riquísimos despojos,
a fuerza de mis brazos granjeados:
que vos, nunca rendírmelos quisistis;

y pues Amor y esos divinos ojos
han sido en el delito los culpados,
romped la injusta ley que establecistis.
- Baltazar del Alcazar, em "Antologia da poesia espanhola - 'Siglo de Oro'". 1º vol. Renascimento. [selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento]. Lisboa: Assirio & Alvim, 1996.

§

Epigrama
Avisando alguém Inês
para deixar o marido,
que anda entre putas metido,
ela disse dessa vez:

"Bem que eu veja claramente
o mal que faz ao deixar-me,
não irei dele aforrar-me
mas desforrar-me, contente."
.

Aconsejándole a Inés
se quite de su marido,
que anda entre putas perdido,
respondió como quien es:

«Aunque  veo por extenso
lo mal que hace en dejarme,
yo no pienso dél quitarme;

mas desquitarme sí pienso.»
- Baltazar del Alcazar, em "Antologia da poesia espanhola - 'Siglo de Oro'". 1º vol. Renascimento. [selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento]. Lisboa: Assirio & Alvim, 1996.

§

Cansado estou...
Cansado estou de ter sem Ti vivido,
que tudo cansa em tão nociva ausência.
Mas, que direito a dares-me clemência,
se me falta o sofrer de arrependido?

Porém, Senhor, em peito tão rendido
algo descobrirás de suficiência
que te obrigue a curar como doença
quanto me obstino, o erro cometido.

Tua esta conversão, pra que ma dês;
teu é, Senhor, o plano e teu o meio
de me conhecer ou eu conhecer-te.

Aplica no meu mal, por quem Tu és,
teu alto bem, com que me remedeio,
de sangue, vida e morte, para eu ver-te.
.

Cansado estoy
Cansado estoy de haber sin Ti vivido,
que todo cansa en tan dañosa ausencia;
mas, ¿qué derecho tengo a tu clemencia,
si me falta el dolor de arrepentido?

Pero, Señor, en pecho tan rendido 
algo descubrirás de suficiencia 
que te obligue a curar como dolencia 
mi obstinación y yerro cometido.

Mi conversión es tuya y Tú la quieres;
tuya es, Señor, la traza, tuyo el medio 
de conocerme yo y de conocerte.

Aplícale a mi mal, por quien Tú eres, 
aquel eficacísimo remedio 
compuesto de tu sangre, vida y muerte.
- Baltazar del Alcazar, em "Antologia da poesia espanhola - 'Siglo de Oro'". 1º vol. Renascimento. [selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento]. Lisboa: Assirio & Alvim, 1996.

§

Epigrama           
Onde o sacro Betis banha,
claro e manso, a linda terra
que entre seus muros encerra
toda a grandeza de Espanha,
vive a que me há-de matar
com seu olhar de feitiço
se eu, como espero antes disso
tal feitiço não quebrar…
.

Donde el sacro Betis baña
Con manso curso la tierra
Que entre sus manos encierra
Toda la gloria de España,
Reside Inés la graciosa,
La del dorado cabello;
Pero: ¿a mí qué me vá en ello?
- Baltasar del Alcazar, em "Cem epigrames espanhóis". [tradução livre de Silva Tavares].  Porto: Livraria Latina Editora, 1943.

§

BREVE BIOGRAFIA
Baltasar del Alcázar,  por Francisco Pacheco - c. 1599
Baltasar del Alcázar (Sevilla, 1530 - Ronda, 1606) Poeta espanhol do século de ouro.
Toda a sua vida foi dedicada ao estudo das ciências humanas. Ele serviu como militar, sob o comando do Marquês de Santa Cruz e ocupou vários cargos na administração pública. Seu trabalho graças a F. Pacheco é preservada; ele coletou os epigramas (e foi chamado de "Marcial Sevilha"), sonetos e poemas de amor, em tom jocoso e burlesco (com o tipo de sátira misógina abundante). Os destaques incluem os poemas "Cena jocosa" o "A dos corcovados", escrito à maneira de Horace e Martial. Em 1605, o escritor Pedro de Espinosa publicou em Valladolid um volume vasto e célebre, obra intitulada 'Flores de poetas ilustres de España', onde reuniu dezenove de suas próprias obras, trinta e seis de Gongora, dezenove de Quevedo, dezoito de Lupercio Leonardo de Argensola, sete de Lope de Vega, seis de Baltasar del Alcázar e outros tantos de  Valdés e Juan Melendez, Juan de Arguijo, além de outros escritores menores, junto com composições de poetas mortos como Camões, Luis de Leon e Barahona de Soto. Esta antologia nos dá uma boa idéia do que foi considerado como o melhor poesia lírica da época, por isso é um meio magnífico de ponderar a poesia de Alcázar; No entanto, muito do seu trabalho permaneceu inédito até século XX, quando foi resgatado por Rodríguez Marín (1910).

Obra de Baltazar del Alcázar em antologias
:: Cem epigrames espanhóis. [tradução livre de Silva Tavares].  Porto: Portugal: Livraria Latina Editora, 1943.
:: Antologia da poesia espanhola - 'Siglo de Oro'. 1º vol. Renascimento. [selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento]. Lisboa: Assirio & Alvim, 1996.
:: Poetas do Século de Ouro Espanhol (Poetas del Siglo de Oro Español).. [seleção e tradução Anderson Braga Horta, Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera; estudo introdutório de Manuel Morillo Caballero]. Edição bilíngue. Coleção Orellana, nº 12. Brasília: Consejería de Educación y Ciencia de la Embajada de Espana en Brasil, 2000. Disponível no link. (acessado em 17.8.2016).


© Obra em domínio público

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske


*****

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou? Deixe seu comentário.