João Bosco de C Freire - poemas

R. Magritte, 1966
ENTRE UM SEGUNDO E O OUTRO
Jamais a tinha visto.
Eu a conheci ao virar por engano
uma página da vida,
exatamente naquele momento:
Entre um segundo e o outro,
hora nenhuma.
Era uma página solitária
só tinha verso.
Não a esqueci, confesso,
porque nada mais tenho a recordar.
Poderia ser uma estrela cadente
ou uma ideia solta,
não frequente, ou ainda, a única existente.

Na verdade não me preocupo
com o porque nem quando.
Se desfaço o mistério, aconteço e
não gosto de ser acontecido;
prefiro o anonimato, mesmo conhecido,
pois nada ai será real;
e nunca se completará, tenho certeza.
E disto eu faço, como penso,
o traço do momento.

E mesmo que seja apenas uma saída do tempo,
considero o bastante por ter nascido,
conhecido e amado; até mesmo aquela
etérea ou não, figura ou ser;
que, como um sonho, só existiu para mim.
- João Bosco de C Freire (inédito)
   - enviado pelo autor -

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Tribuna de poetas
Já não estou no palco
escondido da vida
que daqui a pouco se abrirá.
Espadas de aço não cruzarão o ar em minha volta,
nem meu cérebro é uma fábrica de setas prontas
para o ataque ou tombarem junto ao meu corpo,
ante a sentença fria e cortante.
Sou plateia que apenas aplaudirá,
não existirão vencidos; nem condenados
ao claustro infernal por uma folha de papel.
Ergo uma taça de vinho
e o meu silencio me faz voltar
ao meu pé de lima de bico.
Dois poetas usam chapéus coloridos.
Os outros esqueceram os seus em casa?
O púlpito é um simples caixote
adornado de palavras caídas do céu.

- João Bosco de C Freire (inédito)
   - enviado pelo autor -

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Breve biografia do autor:
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