Eduardo Galeano - aforismos e excertos

Vincent van Gogh - the-alpilles-with-olive-trees-in-the-foreground - 1889

"O que aconteceria se uma mulher despertasse uma manhã transformada em homem? E se a família não fosse o campo de treinamento onde o menino aprende a mandar e a menina a obedecer? E se houvesse creches? E se o marido participasse da limpeza e da cozinha? E se a inocência se fizesse dignidade? E se a razão e a emoção andassem de braços dados? E se os pregadores e os jornais dissessem a verdade? E se ninguém fosse propriedade de ninguém?" 
- Eduardo Galeano, no livro “Mulheres”. [tradução de Eric Nepomuceno]. Porto Alegre: L&PM Editores, 1998.

§

"Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada." 
- Eduardo Galeano, no livro “O livro dos abraços”. [tradução de Eric Nepomuceno]. Porto Alegre: L&PM Editores, 2002.

§

"Enquanto acontecia, essa alegria estava já sendo recordada pela memória e sonhada pelo sonho." 
- Eduardo Galeano, no livro “O livro dos abraços”. [tradução de Eric Nepomuceno]. Porto Alegre: L&PM Editores, 2002.

§

"Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata." 
- Eduardo Galeano, no livro “O livro dos abraços”. [tradução de Eric Nepomuceno]. Porto Alegre: L&PM, 2002.

§

"[…] a primeira condição para mudar a realidade é conhecê-la." 
— Eduardo Galeano, no livro “As veias abertas da América Latina”. [tradução de Sergio Faraco]. Porto Alegre: L&PM Ediotres, 2013.

§

"O mundo trata os meninos ricos como se fossem dinheiro, para que se acostumem a atuar como o dinheiro atua. O mundo trata os meninos pobres como se fossem lixo, para que se transformem em lixo. E os do meio, os que não são ricos nem pobres, conserva-os atados à mesa do televisor, para que aceitem desde cedo, como destino, a vida prisioneira. Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças." 
— Eduardo Galeano, no livro “De pernas pro ar, a escola do mundo ao avesso”. [tradução de Sergio Faraco]. Porto Alegre: L&PM Editores, 2007.

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"Os corpos, abraçados, vão mudando de posição enquanto dormimos, virando para cá, para lá, sua cabeça em meu peito, minha perna sobre seu ventre, e ao girarem os corpos vai girando a cama e giram o quarto e o mundo. ‘Não, não’, você me explica, achando que está acordada: 'Não estamos mais aí. Mudamos para outro país enquanto dormíamos’. "
- Eduardo Galeano, no livro “Dias e noites de amor e de guerra”. [tradução de Eric Nepomuceno]. Porto Alegre: L&PM Editores, 2001.

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"Tenho saudades de um país que ainda não existe no mapa."
- Eduardo Galeano, no livro “Dias e noites de amor e de guerra”. [tradução de Eric Nepomuceno]. Porto Alegre: L&PM Editores, 2001.

§

"A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo."
- Eduardo Galeano, no livro “Dias e noites de amor e de guerra”. [tradução de Eric Nepomuceno]. Porto Alegre: L&PM Editores, 2001.

§

"Um refúgio? Uma barriga? Um abrigo onde se esconder quando estiver se afogando na chuva, ou sendo quebrado pelo frio, ou sendo revirado pelo vento? Temos um esplêndido passado pela frente? Para os navegantes com desejo de vento, a memória é um ponto de partida."
- Eduardo Galeano, no livro “As palavras andantes”. [tradução de Eric Nepomuceno]. Porto Alegre: L&PM, 2004.

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CITAÇÃO NÃO É DE GALEANO E SIM DE FERNANDO BIRRIRI
A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar. 
- Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano no livro “Las palabras andantes” - pág. 310, de Eduardo Galeano, José Borges - Publicado por Siglo XXI, 1994.

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Breve biografia
Eduardo Galeano (1940-2015) nasceu em Montevidéu, no Uruguai. Viveu exilado na Argentina e na Catalunha, na Espanha, desde 1973. No início de 1985, com o fim da ditadura, voltou a Montevidéu.
Galeano comete, sem remorsos, a violação de fronteiras que separam os gêneros literários. Ao longo de uma obra na qual confluem narração e ensaio, poesia e crônica, seus livros recolhem as vozes da alma e da rua e oferecem uma síntese da realidade e sua memória. 

Recebeu o prêmio José María Arguedas, outorgado pela Casa de las Américas de Cuba, a medalha mexicana do Bicentenário da Independência, o American Book Award da Universidade de Washington, os prêmios italianos Mare Nostrum, Pellegrino Artusi e Grinzane Cavour, o prêmio Dagerman da Suécia, a medalha de ouro do Círculo de Bellas Artes de Madri e o Vázquez Montalbán do Fútbol Club Barcelona. Foi eleito o primeiro Cidadão Ilustre dos países do Mercosul e foi o primeiro escritor agraciado com o prêmio Aloa, criado por editores dinamarqueses, e também o primeiro a receber o Cultural Freedom Prize, outorgado pela Lannan Foundation dos Estados Unidos. Seus livros foram traduzidos para muitas línguas.
:: Fonte: L&PM Editores


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