Cristina Gebran - poemas

Inger on Shore, by Edvard Munch.- 1889
POEMAS SELEICIONADOS DE CRISTINA GEBRAN

A solidão faz caber em mim
tantas pessoas desiguais
que me transformo em intermináveis mosaicos,
a alma em caleidoscópio.
Devo ser forte para os outros e pra um outro sou frágil.
E quando finalmente estou só,cato os cacos,com os olhos
perdidos como se a vida não me pertencesse e eu fosse o
palco dos outros.
Esse vazio coabitado é o eco da vivência alheia.
Sigo assim,meio pano de chão,com tantas pegadas a
varar a madrugada.

- Cristina Gebran, no livro "Alma geme". Rio de Janeiro: Editora Topbooks, 2004.


§

Da areia...
Da areia não sei
Do mar não sei
Do vento não sei
Sei do teu sol
em mim
esparramado
esporrado
e bem vindo
Deixo as pegadas
na areia
diáfanas
como o sonho
que não tive
É áspera a areia
vertiginoso o mergulho
Você e o mar

suave carícia.
- Cristina Gebran, no livro "Alma geme". Rio de Janeiro: Editora Topbooks, 2004.

§

Hoje
por acaso
escutando uma canção do passado
percebi que minha dor
atingira
a maioridade.
- Cristina Gebran, em "Poesia sempre". Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional/Minc, editora MEC. ano 13. nº 20, março, 2005. 

§

Meu infinito é todo esse pedaço de vida
que você me tomou e eu nunca recuperei
na sessão de achados e perdidos.
Continuei por aí sendo achada e perdida.
Mas um pedaço de amor ficou nos seus olhos,
Distante como o oceano que nos separa
E a criança que não tive...
- Cristina Gebran, em "Poesia sempre". Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional/Minc, editora MEC. ano 13. nº 20, março, 2005. 

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Breve biografia da autora:
Cristina Gebran nasceu em Curitiba, Paraná, em 1956. Foi criada no Rio de Janeiro. Regressou à cidade natal, onde leciona inglês.
Para Thiago de Mello, a poesia de Cristina "é uma forma íntima de conhecimento, mas é também um caminho, onde a esperança é pânico, que ela percorre sempre de olhos escancarados, em busca de algo que o vendaval levou"Obra publicada:
:: Blasphemias. Edição da autora, 1984.
:: Tácito turno. Rio de Janeiro: Sete Letras, 1993.
:: Alma gene. [prefácio Silviano Santiago]. Rio de Janeiro: Editora Topbooks, 2004.

Antologia (participação)
:: Poesia sempre. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional/Minc, editora MEC. ano 13. nº 20, março, 2005.

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